Utentes dos transportes de Lisboa querem mais oferta para cumprir distanciamento

Marcelo Rebelo de Sousa anunciou que Portugal vai entrar agora numa “terceira fase” do combate à propagação da covid-19, mas com “uma retoma ou uma abertura - qualquer dos termos se pode aplicar - por pequenos passos”.

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Miguel Manso

Os utentes dos transportes públicos da Grande Lisboa manifestaram hoje preocupação com o fim do estado de emergência, defendendo o ajuste da oferta à procura, para serem cumpridas as regras de distanciamento, e a manutenção das operações de desinfecção.

O Presidente da República anunciou na terça-feira que o estado de emergência vai terminar à meia-noite do dia 02 de Maio e que Portugal vai entrar numa fase de “abertura” por pequenos passos, sendo que nesta quinta-feira o governo irá divulgar novas regras.

Em declarações à Lusa, Luísa Ramos, da Comissão de Utentes da Margem Sul, explicou que com a abertura de serviços de forma faseada é expectável que mais pessoas precisem dos transportes para se deslocarem para os empregos.

“Uma das nossas exigências será a reposição imediata de todas as carreiras que foram cortadas”, afirmou, lamentando que no início do estado de emergência a Transportes Sul do Tejo (TST) tenha entrado em lay-off.

Com a decisão, a TST colocou 545 dos seus 1.040 colaboradores naquele regime, suspendendo as carreiras com ligação a Lisboa, desde o início de Abril, apresentando o transporte fluvial no Tejo, operado pela Transtejo e Soflusa, como uma alternativa às carreiras suprimidas.

“Há uma necessidade de haver uma imposição, pois trata-se de uma empresa privada concessionada para o transporte publico. Não pode ser ela unilateralmente a diminuir e cortar a oferta”, alertou Luísa Ramos, recordando o que se passou no início da pandemia da covid-19.

As populações, acrescentou, deixaram de ter alternativa rodoviária nas deslocações para Lisboa, exigindo que as mesmas sejam retomadas depois de 02 de Maio, “nem que seja uma reposição por fases”.

A Transtejo assegura as ligações fluviais entre o Seixal, Montijo, Cacilhas e Trafaria/Porto Brandão a Lisboa, enquanto a Soflusa garante a travessia entre o Barreiro e o Terreiro do Paço (Lisboa).

Também Nuno Catarino, da Comissão de Utentes do Cais do Seixalinho, considera que o levantamento gradual de restrições vai levar a “maior movimento de utentes”, o que “poderá implicar, nas horas de ponta, a um reforço das embarcações”.

“Em termos de lotação não poderá haver pessoas sentadas ao lado umas das outras. Nas últimas semanas, a lotação é muito inferior ao normal”, reconheceu. No entanto, afirma que se notou “um pequeno aumento quando terminaram as ligações entre Montijo e Lisboa”, já que as pessoas que usavam os autocarros passaram a usar o barco.

Agora, alerta Nuno Catarino, a empresa terá de estar preparada para os níveis de afluência, tendo em conta o distanciamento que terá de existir entre os passageiros. “A lotação máxima dos navios é controlada pelos torniquetes. Duas cadeiras de intervalo para manter o distanciamento deverá ser uma das medidas, pelo que a lotação máxima também vai mudar e deverá ter em conta essa alteração”, explicou.

Assim, considera que é só necessário fazer essas contas e os torniquetes serem adaptadas a um novo máximo de passageiro em cada barco: “no mínimo é exigível que façam essa relação”.

O responsável adiantou ainda que uma das preocupações passa também pelas “desinfecções em períodos aceitáveis das embarcações”, acrescentando que a comissão de utentes tem canais “para se manter em cima dos acontecimentos” e que irá estar atenta.

O plano de contingência da Transtejo e Soflusa entrou em vigor em 05 de Março, com medidas como a “desinfecção de todos os terminais, estações e frota”, o reforço da limpeza de superfícies, o encerramento das bilheteiras e a distribuição de solução gel desinfectante nos navios.

A empresa reduziu a sua oferta, implementando “horários de serviços mínimos” desde 23 de Março em todas as ligações fluviais no rio Tejo, não sendo necessária a validação do título de transporte, tendo o passageiro apenas de empurrar o torniquete, com o corpo, para poder entrar na sala de embarque.

Já Cecília Sales, da Comissão de Utentes dos Transportes Públicos de Lisboa, mostrou-se igualmente preocupada com o número de trabalhadores, sobretudo do Metropolitano de Lisboa, que possam assegurar a limpeza das carruagens, dos obliteradores e das estações.

“Actualmente, há menos autocarros e camionetas a circular, assim como o metro, por isso também assistimos, algumas vezes, a uma aglomeração nos transportes a determinadas horas”, alertou.

Cecília Sales considerou essencial que sejam colocadas à disposição dos utentes “mais carruagens e mais autocarros”, de forma a permitir que os utentes circulem em segurança e com o distanciamento que vier a ser determinado.

“As frotas têm de ser aumentadas, renovadas. Há que ter alguma esperança por parte das empresas de transporte que vão fazer tudo o que vier a ser determinado, senão o medo instala-se”, reconheceu.

As comissões de utentes dos transportes públicos de Sacavém, Camarate, Unhos e Apelação alertaram para o facto de a entrada em lay-off da Rodoviária de Lisboa ter levado à “redução para níveis mínimos de prestação de serviço, a uma enorme redução de percursos e horários, à multiplicação das necessidades de transbordo e à criação de situações de sobrelotação das viaturas e de disrupção nos percursos diários de muitos milhares de trabalhadores”.

As comissões de utentes entendem como adequada a reintrodução de mecanismos de validação e fiscalização, mas exigem que a mesma seja acompanhada de uma normalização dos serviços prestados aos utentes, nomeadamente de protecção e precaução no que respeita à saúde pública.

Na terça-feira, Marcelo Rebelo de Sousa anunciou que Portugal vai entrar agora numa “terceira fase” do combate à propagação da covid-19, mas com “uma retoma ou uma abertura - qualquer dos termos se pode aplicar - por pequenos passos”.

O Presidente da República advertiu, contudo, que “não se pode encarar a terceira fase como a normalidade e a estabilização dentro do possível” e que “os portugueses têm de ter a noção de que a contenção continua a ser importante”.