Regresso aos ginásios com metade das máquinas e limitação do tempo de treino?

Associação de Ginásios e Academias de Portugal recomenda encerramento dos chuveiros, uma limitação do tempo de treino de cada utente e que a utilização das máquinas seja reduzida para metade.

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O contacto físico entre os técnicos e os clientes dever-se-á “evitar ao máximo” e a marcação de aulas de grupo deverá ser intervalada Rui Farinha/ARQUIVO

Não há ainda recomendações por parte do Governo ou da Direcção-Geral da Saúde (DGS) sobre a reabertura dos ginásios, que se encontram encerrados há mais de um mês devido à pandemia de covid-19. No entanto, a Associação de Ginásios e Academias de Portugal (AGAP), que representa 1100 dos cerca de 1300 ginásios e academias a operar em Portugal — incluindo grandes cadeias como o Holmes Place, Solinca, Pump ou Fitness Hut —, entregou no passado dia 16 de Abril ao secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, uma proposta para a reabertura dos clubes de fitness.

A proposta, elaborada com base naquilo “que foi feito noutros países, onde entretanto já abriram os ginásios e clubes de fitness”, lista medidas que “dão segurança e confiança” aos consumidores para regressarem aos ginásios, começa por explicar ao PÚBLICO o presidente da AGAP, José Carlos Reis. Entre elas, prevê-se a utilização de metade das máquinas e equipamentos de cardio-fitness e musculação e a limitação do tempo de treino.

No documento entregue ao secretário de Estado da Juventude e do Desporto, ao qual o PÚBLICO teve acesso, a AGAP sublinha que “os cerca de 1100 clubes de fitness e saúde enfrentam dificuldades financeiras muito significativas”. “A grande maioria dos clubes tem uma quebra superior a 50% da facturação, alguns clubes deixaram mesmo de facturar aos clientes. O prolongamento da situação de encerramento para além de Maio de 2020 vai significar o encerramento de muitos clubes que empregam em Portugal cerca de 17.000 profissionais”, refere.

Neste sentido, a associação apresenta algumas medidas para antecipar e organizar a retoma das actividades e garantir a segurança dos sócios e colaboradores, sugerindo, por exemplo, que a lotação corresponda a um sócio por cada quatro metros quadrados de área do clube, “respeitando assim a distância recomendada de afastamento de dois metros” entre pessoas — limite este que deverá ser também aplicado nas aulas de grupo.

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ADRIANO MIRANDA

Um treino de uma hora

A AGAP destaca, na proposta, que “todos os clubes já têm um sistema de controlo de acesso às instalações e, portanto, serão capazes de bloquear as entradas quando a capacidade máxima for atingida”.

Nas salas de exercício, compostas por máquinas e equipamentos de cardio-fitness e musculação, “a limitação de frequência será determinada pelo número de utentes igual ao número de 50% dos equipamentos em utilização relativamente aos existentes antes do encerramento”, sendo que a outra metade poderá ser vedada à utilização ou retirada da sala. Além disso, “o tempo de permanência de cada utente não deve ser superior a uma hora”.

A associação propõe ainda que seja controlado o acesso às salas, de forma a não gerar filas à entrada, e nota que “a maioria dos clubes já tem um sistema informático de reservas para facilitar a gestão do número de pessoas na sala”.

Quanto ao distanciamento de segurança, os ginásios e academias deverão realizar “adaptações temporárias”, prevendo-se a “marcação no chão das distâncias mínimas entre as pessoas na recepção dos clubes” e a implementação de “protecções de acrílico ou vidro no atendimento”. Devem ser também implementadas recomendações para os clientes sobre o uso dos equipamentos e higienização imediata após a utilização e proibida a prática de exercício físico a dois.

O contacto físico entre os técnicos e os clientes dever-se-á “evitar ao máximo” e a marcação de aulas de grupo deverá ser intervalada (com períodos de cerca de 15 minutos) para permitir a higienização e arejamento dos espaços e evitar aglomerados. “As aulas de grupo têm que ser intervaladas, para as pessoas não se cruzarem quando trocam de aulas”, sublinha José Carlos Reis.

Encerramento dos chuveiros

A AGAP sugere ainda a marcação, sempre que possível, “de horários exclusivos de frequência dos clubes para pessoas idosas”; uma redução da utilização dos balneários para 50%, “utilizando-se apenas de dois em dois cacifos, para manter a distância entre as pessoas” e o “encerramento dos chuveiros durante as primeiras semanas de reabertura”.

Está previsto o “fornecimento de produtos desinfectantes para todos os clientes em todas as salas/estúdios e no local de trabalho das equipas”, assim como o “reforço dos serviços de limpeza, com especial atenção aos equipamentos desportivos”, e “da comunicação a todos os clientes sobre a importância das regras de etiqueta respiratória e o respeito e cumprimento das medidas de higiene em vigor”.

Reabertura de “forma condicionada"

São estas as medidas propostas para uma reabertura gradual, “de forma condicionada” e “com grandes restrições”. Embora sublinhe que a AGAP não tem “competência técnica” para definir a data de reabertura dos ginásios, João Carlos Reis garante que o sector confia “nas autoridades e no Governo para a definição dessa data”. “O que nós queremos mostrar é que estamos preparados para abrir quando o Governo entender que é o momento ideal”, refere.

Apesar de assumir que “tem que haver um controlo de acessos aos clubes e uma série de procedimentos diferentes do que era habitual”, o presidente da AGAP nota que caberá depois, a cada clube, definir a sua estratégia para controlar as entradas e o acesso.

Quanto à utilização da máscara, o presidente da AGAP refere que “há alguns países que recomendam o seu uso e outros que não recomendam”. “Não somos técnicos de saúde e o que a DGS recomendar, nós vamos cumprir”, garante.

Perda de clientes

José Carlos Reis admite que os ginásios não serão frequentados, daqui para a frente, pela mesma quantidade de gente, referindo que, à semelhança do que aconteceu na Nova Zelândia ou Austrália, vai continuar a recomendar-se aos idosos “que não saiam de casa”. “Logo aí os clubes perdem, se calhar, 20% dos seus clientes”, nota. “Não acredito que seja possível termos o mesmo número de clientes que tínhamos antes da pandemia, acho que isso só vai acontecer daqui a um ano. A não ser que haja uma vacina”, conclui.

Sobre a redução das mensalidades, José Carlos Reis reafirma que essa será uma decisão que ficará a cargo dos clubes. “Quando os clubes encerraram, houve alguns que disseram aos seus clientes que não iam cobrar nada, outros que cobraram 100% porque iam reforçar os serviços online, noutros casos [a cobrança] foi de 75% ou 50%. Não é um papel da associação definir preços. Depende de cada um avaliar o seu caso”, conclui.

Medidas de apoio ao sector

A associação apelou ainda ao Governo que sejam adoptadas “medidas específicas de apoio ao sector”. “Uma delas é a redução do IVA para 6% só durante 12 meses, o tal período que acredito que seja necessário para nós conseguirmos ter novamente o boost que tínhamos antes da pandemia”, afirma o presidente da AGAP, sublinhando que este sector “é um dos mais prejudicados”.

A outra medida que a AGAP considera “fundamental” diz respeito à “possibilidade de as pessoas colocarem nos seus benefícios fiscais despesas com clubes de fitness”. “Isto acontece na Alemanha, Suíça e em vários países da Europa e é uma mudança de mentalidade nas pessoas. É o Governo admitir que o exercício físico é promotor de saúde e preventor de doenças”, refere José Carlos Reis, admitindo que esta medida poderá “trazer muita gente para o fitness”. “De certa forma, estamos a compensar a redução do IVA com mais pessoas a pagarem, mais IRC e mais facturação. As nossas medidas, ao fim e ao cabo, são medidas que tendem para zero, ou seja, o sacrifício do Governo praticamente tenderia para zero”, sublinha.

O presidente da AGAP destaca que, “em Portugal, só 6,9% das pessoas vão ao ginásio”. “Em Espanha, vão ao ginásio 13% das pessoas. Na Alemanha, vão 18% e na Suécia vão 25%. É uma possibilidade para que 93,1% das pessoas que nunca vão ao ginásio em Portugal estejam mais despertas para a necessidade de exercício físico”, conclui, sublinhando que as medidas propostas “estão a resultar” noutros países e poderão permitir uma “retoma gradual da confiança” dos consumidores.

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