Confinamento causou “fricção” na maioria das casas
Seis em cada dez pessoas que coabitam com outras passam “por algumas situações de fricção”, diz estudo da Deco. A maioria dos inquiridos, especialmente as mulheres, afirmam que ficar em casa contribuiu para “mazelas na saúde”.
Seis em cada dez pessoas que coabitam com outras têm passado “por algumas situações de fricção”, diz um estudo lançado esta segunda-feira pela Deco Proteste. As razões são sobretudo devido à partilha de tarefas domésticas ou por estarem confinados no mesmo espaço o dia inteiro.
Este é um dos resultados do último inquérito realizado pela Deco - Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor, relacionado com o impacto da pandemia da covid-19 na população.
Sobre as alterações no ambiente em casa, o inquérito, realizado entre os dias 17 e 20 de Abril, revela que 60% dos inquiridos que coabitam com outras pessoas afirmam ter passado “por algumas situações de fricção, sobretudo, devido à partilha de tarefas domésticas ou por estarem no mesmo espaço durante todo o dia”.
“As diferenças de opinião sobre as medidas de prevenção da covid-19 a adoptar são outros rastilhos incendiários” e, nos agregados com crianças, “o acompanhamento escolar é também foco de conflito, segundo 28% dos inquiridos”, indica a Deco.
Por outro lado, 45% dos portugueses que coabitam com outros revelam que as restrições à mobilidade tiveram um impacto positivo no relacionamento familiar, sobretudo em agregados que incluem casais com filhos menores.
“O bom ambiente familiar é útil, mas não elimina as mazelas na saúde provocadas pelo confinamento”, indica a associação, apontado que seis em cada dez inquiridos, com destaque para as mulheres, assinalaram que as restrições à mobilidade prejudicam o seu bem-estar psicológico.
Ter um problema grave de saúde e não ir ao hospital
O medo de contrair covid-19 impediu, por sua vez, que um quarto dos inquiridos que tiveram um problema grave de saúde se deslocasse ao hospital, arriscando-se a que a situação evoluísse sem retorno.
A falta de actividade física e a ingestão de maior quantidade de comida, incluindo snacks doces e salgados, foi referida por 39% dos portugueses inquiridos pela associação de defesa do consumidor.
Seis em cada dez afirmam ir menos vezes ao supermercado pessoalmente, sendo que 49% diz frequentar menos os mercados tradicionais e 44% o comércio local. “Por terem maior disponibilidade ou já fruto da redução dos rendimentos, cerca de um quinto dos inquiridos presta agora mais atenção aos preços dos produtos e um terço afirma aproveitar sobras de refeições anteriores”.
A grande maioria (oito em cada dez) revela não desperdiçar comida, quase o triplo dos que o faziam no início deste ano.
As razões para sair de casa
Apenas 6% dos inquiridos afirmam não ter saído de casa uma única vez na última semana.
Segundo a Deco, “a grande maioria saiu para comprar alimentos, medicamentos ou outros produtos, sendo que quatro em cada dez o fez mais do que uma vez por semana”. Quase metade foi passear ou correr nas redondezas da habitação, conforme previsto nas medidas do estado de emergência, mas 10% saiu da sua área de residência.
“Os prevaricadores são, sobretudo, os mais jovens, entre os 18 e os 30 anos” e são também os que “mais contrariam a regra de evitar os contactos sociais”. Cerca de um quarto dentro desta faixa etária confessou ter saído para se encontrar com familiares ou amigos. Na população em geral, 12% tiveram o mesmo comportamento, segundo o estudo.
“Quem vive sozinho também é mais propenso a quebrar o isolamento, arriscando o contágio”, pelo que a Deco defende que deve ser feita “alguma reflexão numa altura em que se fala em levantar as restrições impostas pelo estado de emergência”.
O inquérito da Deco foi realizado entre 17 e 20 de Abril através de um questionário online, tendo a associação recebido 1008 respostas e segue-se a um outro, publicado em meados de Março, que concluía que o prejuízo total das famílias devido à pandemia rondava naquela altura os 1,4 mil milhões de euros.
O estudo publicado esta segunda-feira pela Deco Proteste revela que quase 60% da população activa está a sofrer redução de rendimentos devido à perda de emprego ou à diminuição do trabalho como consequência da pandemia covid-19.