Aprender com os jogos de tabuleiro modernos em casa

As pessoas procuram nos jogos de tabuleiro formas de entretenimento colectivo caseiro em confinamento. As famílias tentam ganhar assim algum tempo de qualidade com os filhos e evitar o isolamento em frente aos ecrãs. Mas esses jogos podem servir para algo mais?

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Christopher Paul High/Unsplash

Os jogos de tabuleiro estavam a proporcionar, nestes tempos pós-digitais, uma forma renovada de redescobrir o prazer de jogarmos em companhia. Agora que estamos em isolamento percebemos ainda melhor o quão complicado é estarmos sozinhos. O desejo por voltarmos a socializar cara a cara cresce a cada dia que passa. Apesar das mudanças revolucionárias nos designs dos novos jogos de mesa, as pessoas procuravam-nos, principalmente, porque fomentavam formas únicas de socialização. A tendência pós-pandemia será apreciar ainda mais estes jogos, haja a oportunidade de estarmos juntos.

Ainda que o futuro para esta indústria criativa seja algo incerto, por ser necessário um reajuste do modelo de negócios existente e da oferta de jogos actual, a venda de jogos de tabuleiro cresceu no início da pandemia. Agora, as pessoas procuram nestes jogos formas de entretenimento colectivo caseiro em confinamento. As famílias tentam ganhar assim algum tempo de qualidade com os filhos e evitar o isolamento em frente aos ecrãs. Mas esses jogos podem servir para algo mais?

Tenho recebido muitas solicitações e pedidos de recomendações de jogos para famílias, casais, amigos que partilham casa e até jogadores isolados, quer nas minhas redes sociais pessoais quer no projecto Jogos no Tabuleiro. Por isso, tem sido uma correria para criar esses conteúdos para o YouTube. Em Portugal ainda faltam espaços de divulgação apropriados e quem pretende descobrir os novos jogos pode sentir-se perdido. Aproveitando esta necessidade, lancei uma nova série de vídeos, partindo da minha prática como formador e investigador. Nesta fase, em que as crianças passam tanto tempo com os pais em casa, poder usar estes jogos como apoio ao estudo é saudável e desejável. Os jogos de tabuleiro podem ser utilizados para aprender matemática, português e estudo do meio no ensino básico. Esta abordagem pode ser igualmente seguida em todos os graus de ensino, e para as mais variadas disciplinas, tais como a história, geografia, geometria e muitas outras. Podem ver exemplos disto aqui.

No entanto, há que ter algum cuidado, pois os jogos, por si só, não são soluções milagrosas. A panóplia de jogos é imensa e é preciso saber, previamente, quais os mais adequados e recomendados para cada objectivo e contexto. O uso formal dos jogos como ferramentas tende a ser feito por pedagogos, especialistas nos conteúdos e no desenvolvimento de jogos enquanto produto. É deste trabalho conjunto que surgem os chamados serious games: jogos desenvolvidos ou adaptados para que os jogadores atinjam objectivos previamente definidos, mas que devem proporcionar experiências divertidas. Para que um jogo analógico se torne um serious game é imprescindível também o devido acompanhamento e apoio à interpretação da dinâmica de jogo. Esta abordagem parece óbvia, mas o próprio conceito de diversão é difícil de definir, pois as pessoas não se divertem todas com as mesmas coisas. O segredo consiste em adaptar e desenvolver jogos que possam agradar aos vários perfis ou, então, dispor de um leque vasto de jogos, conjugando-os e sabendo a quais recorrer consoante os objectivos a atingir.

Esta abordagem dos serious games tende a ser dispendiosa, pois implica uma conjugação complexa de muitos conhecimentos técnicos e científicos, que pode demorar muito tempo a gerar soluções. Uma das alternativas consiste em utilizar jogos de tabuleiro já existentes, adaptando-os e produzindo soluções de jogos pedagógicos, educativos, de simulação e para facilitar projectos. Tem sido essa a minha prática experimental e de investigação científica.

Assim, neste momento de confinamento, mas com a devida tutoria, pais e filhos podem fazer actividades divertidas e úteis para ambos com jogos de tabuleiro. Apesar de tudo, a vida tem de continuar e nós de mantermos a mente e as nossas relações sociais saudáveis. 

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