Restaurantes vão pedir a clientes para medir febre e desinfectar as mãos

“Tem de haver segurança absoluta dos trabalhadores e confiança do cliente para frequentar o restaurante. Queremos ter segurança extrema, para que haja uma confiança extrema e para que sejamos um exemplo para o mundo e para que o turismo regresse”, declara presidente de associação do sector.

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LUSA/JOSÉ COELHO

Clientes sentados com distâncias seguras, desinfecção das mãos à entrada do restaurante, medição da temperatura corporal e realização de testes covid-19 aos trabalhadores são as algumas regras que a restauração propôs ao Governo para o pós-estado de emergência.

Jorge Santos, empresário da restauração e responsável pelo BB Gourmet no Campo Alegre, no Porto, sabe de cor o guião das novas regras que terá de implementar no seu estabelecimento no momento em que o Governo permita aos restaurantes reabrirem em segurança no contexto da pandemia da covid-19.

“O cliente deverá reservar para poder aceder ao restaurante. À chegada iremos medir a temperatura do cliente e, se não corresponder [a um valor seguro], não poderá entrar. Depois levá-lo à mesa. Na mesa, deixaremos cerca de dois metros de distância para a mesa do lado. A escolha do menu será numa aplicação no telemóvel ou no tablet do restaurante”, enumera Jorge Santos, armado de máscara, viseira e luvas.

O plano de contingência do empresário no combate à covid-19 prevê que os pedidos de comida cheguem à mesa com funcionários sempre munidos de viseiras, máscaras e luvas.

O pagamento é online ou em dinheiro certo para incentivar que não se tenha de mexer com trocos, acrescenta, referindo contar ter capacidade para atender entre 40 a 50 pessoas em simultâneo. Em tempos de pré-covid-19, tinha capacidade para cerca de 100 clientes ao mesmo tempo.

A medição da temperatura corporal para os funcionários à entrada e à saída dos turnos, bem como a realização de testes covid-19, são outras das medidas que os empresários da restauração consideram importantes.

Distância e desinfecção

Em entrevista à Lusa, o presidente da associação nacional de restaurantes PRO.VAR (Promover e Inovar a Restauração Nacional) defende a implementação de testes covid-19 obrigatórios para “todos os funcionários do sector da restauração” e “financiados pelo Governo”. “Era importante que o Governo fizesse um rastreio de 15 em 15 dias ou semanalmente a todos os funcionários de modo a permitir uma segurança praticamente absoluta”, defende Daniel Serra.

“Tem de haver segurança absoluta dos trabalhadores e confiança do cliente para frequentar o restaurante. Queremos ter segurança extrema, para que haja uma confiança extrema e para que sejamos um exemplo para o mundo e para que o turismo regresse”, declara Daniel Serra.

A questão da distância entre clientes à mesa do restaurante e a medição de temperatura dos trabalhadores, à entrada e à saída do trabalho, e dos clientes, à entrada, são outras propostas validadas pela associação de restaurantes.

Higienizar o espaço durante a noite através do ar condicionado com produtos que sejam colocados de forma generalizada faz também parte do rol de novas regras propostas pela PRO.VAR ao Governo. A associação também recomenda aos empresários do sector que façam uma “desinfecção integral” das mesas e cadeiras após os clientes se irem embora.

As medidas propostas pela associação vão acrescer os custos na restauração e “não serão economicamente viáveis” no início, observa o presidente da associação, apelando ao Governo para que tenha o “bom senso em criar medidas que não sejam para aumentar os custos”.

Pandemia foi uma “bomba atómica”

Manuel Pinheiro, há 36 anos na restauração e dono do restaurante o Gaveto, em Matosinhos, no distrito do Porto, declarou à Lusa que a pandemia foi uma “bomba atómica” que aconteceu no mundo e que atingiu o sector da restauração e que a forma de combater o inimigo comum — o novo coronavírus — vai passar por implementar medidas de segurança que devem abranger de forma equitativa todos os restaurantes do país.

“Fechar é fácil, mas depois abrir não é”, diz Manuel Pinheiro. “Não há nenhuma solução mágica para seis meses ou um ano”, declara o proprietário,​ defendendo que as medidas tomadas sejam fruto da colaboração entre Governo, associações do sector e entidades que tutelam o sector e que essas medidas “reajustadas quinzenalmente”, tendo como prioridade a saúde dos portugueses.

A associação PRO.VAR, que diz ter reunido com vários grupos parlamentares e com a secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, apela ao Governo para que prolongue os apoios ao sector, designadamente no lay-off, até ao final do ano.

O sector de restaurantes e cafés foi afectado com a pandemia do novo coronavírus e a maioria teve de encerrar ou trabalhar no registo de take away. O decreto presidencial que renovou o estado de emergência até 2 de Maio prevê “a possibilidade de futura reactivação gradual, faseada, alternada e diferenciada de serviços, empresas e estabelecimentos”.