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Mesmo em confinamento, a violência doméstica não tem de ficar “entre quatro paredes”
"Nem tudo tem de ficar entre quatro paredes." A mensagem chega num momento em que é precisamente dentro de quatro paredes que grande parte da população vive — e o timing foi propositado e estudado por activistas e voluntárias do projecto Feminismos Sobre Rodas, em parceria com o Centro EIR (Emancipação, Igualdade e Recuperação), o projecto Viva (Vê, Informa-te, Vai e Age), a Umar (União de Mulheres Alternativa e Resposta) e a Produtora Filtro. A campanha, lançada esta segunda-feira, 20 de Abril, quer alertar para a violência doméstica em tempos de quarentena e num momento em que "nas notícias há muita informação sobre a crise sanitária", mas nem sempre sobre "as formas como os grupos vulneráveis podem fazer denúncias", refere Patrícia Martins, do Feminismos Sobre Rodas, ao P3.
"Imaginamos que numa situação em que a ansiedade, o stress e o pânico aumentam, também o sentimento de insegurança face às respostas institucionais deverá aumentar", afirma Patrícia. Por isso, fizeram uma "avaliação bastante criteriosa" dos canais de apoio e decidiram divulgá-los via redes sociais. A ideia é potenciar as estruturas de apoio que o Estado criou e reforçou — como um e-mail de emergência, uma linha de SMS, as mais cem camas para abrigar pessoas em situação de abuso — ao mesmo tempo que encorajam a denúncia.
O vídeo de cerca de um minuto mostra pessoas de grupos mais vulneráveis a viverem situações de violência e apresenta, no final, contactos — alguns silenciosos, como a SMS para o número 3060, que, além de gratuito, não fica registado na factura mensal. Todos podem ser utilizados não só pelas vítimas, como também pelos vizinhos, amigos ou todos aqueles que tenham conhecimento de algum caso de abuso. A campanha deverá começar a circular a partir desta segunda-feira não só em páginas de movimentos feministas e de igualdade de género, mas também em grupos diversificados, como "de lazer ou de clubes de futebol", para mais eficazmente chegar a um maior número de pessoas.
"Ao contrário do medo, a denúncia pode salvar vidas", atira a activista, que relembra que uma das principais ameaças às vítimas neste momento é o facto de estarem confinadas ao mesmo espaço que o agressor. Esse pode ser, aliás, um dos factores que explica o porquê de o número de denúncias por violência doméstica não ter aumentado face ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da PSP. "Todos os estudos e especialistas da área apontam para o aumento das situações de violência no espaço privado e, concomitantemente, a dificuldade em efectuar a denúncia", corrobora a activista.
O importante é lembrar que "as pessoas e, sobretudo, as mulheres não estão sozinhas". "Há um conjunto de instituições que estão a funcionar permanentemente e que têm instrumentos e estratégias para as apoiar numa situação de emergência", continua Patrícia. Aos vizinhos, deixa a mensagem: "A convivência entre vizinhos acontece, mesmo que não seja directa. Isto também é um alerta para as pessoas que estão nas suas casas e que ouvem ou vêem sinais de alerta." Porque, mais do que um dever, a denúncia de situações de abuso é "um exercício de cidadania".