Austeridade? “Não dou uma resposta que amanhã não possa garantir”, responde Costa
O primeiro-ministro afirma, em entrevista ao Expresso, que a reabertura da actividade económica e lectiva implica uso “obrigatório” de máscara nos transportes públicos e nas escolas
O primeiro-ministro considera que “o país não precisa de austeridade, precisa de relançar a economia”, mas não dá uma resposta definitiva que não possa garantir no futuro. Em entrevista ao Expresso, António Costa revela algumas medidas que gostaria de tomar a 30 de Abril para se concretizem nas próximas semanas ou meses: reabertura do pré-escolar em Junho e das aulas presenciais do 11º e do 12º ano mas com horários desencontrados com os dos trabalhadores. Já as praias vão ter restrições para evitar uma “aglomeração” de pessoas.
Questionado sobre se admite que venha a ser necessário aplicar medidas de austeridade, o primeiro-ministro reiterou que “foi uma má ideia e seria uma má ideia” e que “o país não precisa de austeridade, precisa de relançar a economia”. Mas, depois de insistência por parte dos jornalistas, António Costa referiu o contexto da incerteza: “Já ando nisto há muitos anos para não dar hoje uma resposta que amanhã não possa garantir. E acho que há um factor fundamental para sairmos desta crise, que é mantermos confiança”.
Citando o líder do PSD, o chefe de Governo diz que é preciso apoiar a economia mas com travão. “É necessário apoiar famílias, empresas, economia, mas não podemos apoiar ilimitadamente, temos de ter consciência de que a despesa de hoje é um imposto de amanhã. É preciso perceber que não é altura de andar a contar tostões para responder à prioridade da saúde pública, mas que há um amanhã”, afirmou, retomando as palavras recentes do ministro da Economia, Siza Vieira, quando disse que “despesa do Estado agora são impostos amanhã”.
Relativamente à recuperação da economia depois da crise sanitária, o primeiro-ministro referiu a necessidade de um plano assente “num fortíssimo plano de investimento” na ferrovia, nos hospitais. “Vamos ter um programa de emprego que permita absorver muita da mão-de-obra que ficou disponível”, disse.
Questionado sobre quem serão os seus parceiros de negociação – a esquerda ou o PSD – em torno do futuro orçamento rectificativo, António Costa referiu a necessidade do “mais largo consenso político possível” e aproveitou para afastar a ideia de bloco central: “Quando nem a noiva nem o noivo querem, não vale a pena insistir nessa proposta de casamento”.
O primeiro-ministro acredita que “passada esta fase dura” haverá também “a mesma capacidade de concertação social e política” para trabalhar na “recuperação da economia”. Essa concertação será à esquerda? “Já respondi a essa pergunta no dia em que apresentei a minha candidatura ao PS em 2014. Felizmente, o grau de concertação para responder a esta crise tem sido muito amplo — do ponto de vista social e político”, disse, elogiando a “postura” de Rui Rio.
Relativamente à reabertura das actividades económicas e lectivas, António Costa assume que gostaria de apresentar a 30 de Abril o “calendário de desconfinamento progressivo”, que ainda depende da evolução da pandemia, embora ressalvando que não haja sobreposição de universos abrangidos como os alunos do 11º e do 12º e as crianças das creches. No caso do secundário, a ideia é que “estudantes e professores e os trabalhadores não se cruzem nos transportes públicos, e manter “o maior número de pessoas possível em teletrabalho”. Os que optam por trabalhar presencialmente têm de o fazer alternadamente, uns “de manhã outros à tarde”, uns “numa semana, outros noutra”, sem avançar com o mês concreto para esse reinício. No pré-escolar, o primeiro-ministro disse que gostaria que já pudessem reiniciar a actividade pelo menos no período praia/campo, em Junho.
No caso da função pública, o primeiro-ministro referiu a necessidade de uso de acrílicos e de máscaras no atendimento ao público. Considerando que a “administração pública tem de dar o exemplo”, Costa anunciou que o início da reabertura será pelos serviços desconcentrados “só no fim pelas Lojas de Cidadão”.
De qualquer forma, as medidas de reabertura vão implicar o uso obrigatório de máscaras nas escolas e nos transportes públicos.
Outra das certezas são as restrições nas praias em Agosto. “A aglomeração não vai poder existir. As autarquias e as capitanias vão ter de tomar as medidas necessárias para que possamos ir à praia sem que se verifique uma aglomeração, disse. Sobre o futebol, ainda estão a ser estudadas as soluções. “Pode ser à porta fechada ou só com os lugares cativos distribuídos pelo estádio”, disse, referindo que a proposta da Liga era para poder completar a época em Junho e Julho.
Assumindo que neste momento “está claramente em causa a sobrevivência e o futuro da União Europeia”, o chefe de Governo diferencia a posição da Alemanha de um grupo de países que junta Finlândia, Áustria, Holanda. “A Alemanha claramente não tem uma posição coincidente com nenhum desses países. E tem dado vários contributos importantes para construir uma posição conjunta”, afirmou, qualificando a postura de Berlim como “construtiva”.