O regresso ao “novo quotidiano”: algumas sugestões práticas e (relativamente) fáceis
Para melhorar o bem-estar e o dia-a-dia das famílias, existem algumas estratégias muito simples, que cada família pode adoptar, à medida das suas próprias realidades e condições específicas, e que não só permitem uma melhor adaptação às condições em que vivemos, como promovem uma maior coesão e equilíbrios familiares.
Após a interrupção das férias da Páscoa, as famílias retomam o seu “novo quotidiano”, gerado pela situação de confinamento social.
Se o facto de já vivermos, há umas semanas, nesta situação permite que se vão criando rotinas e respostas adaptativas, a verdade é que esse prolongamento da situação é, também, gerador de cansaço, de impaciência, de tensões e da percepção de incapacidade.
Para melhorar o bem-estar e o dia-a-dia das famílias, existem algumas estratégias muito simples, que cada família pode adoptar, à medida das suas próprias realidades e condições específicas, e que não só permitem uma melhor adaptação às condições em que vivemos, como promovem uma maior coesão e equilíbrios familiares.
- Gerir o tempo, criando horários: para acordar, para as refeições, para o exercício físico, para as tarefas da escola e para o trabalho e cumprir esses horários de forma rigorosa, sem cair na tentação da desculpa do “é só por uma vez” ou “é só um bocadinho”.
- Delimitar espaços: como aquilo que vivemos são situações em que, muitas vezes, há dois adultos em casa, em regime de teletrabalho, e crianças ou adolescentes em ensino à distância, é necessária a delimitação de espaços individuais. Assim, por mais pequena que seja a casa é fundamental que se defina quem trabalha onde – isto pode implicar a adaptação improvisada de um quarto ou de uma marquise em escritório – de modo a que todos consigam executar as suas tarefas com a maior tranquilidade e concentração possíveis, ou seja, com o mínimo de interferências.
- Não ceder à tentação de controlo permanente do que as crianças estão a fazer. Afinal, se no dia-a-dia comum não estamos na escola, a acompanhar ou a controlar as tarefas dos nossos filhos, também não o deveremos fazer agora. As “ajudas” devem ocorrer num momento pré-definido, por exemplo, ao final da tarde, exactamente, como aconteceria se estivéssemos a trabalhar fora de casa.
- Mostrar a ética de responsabilidade e de trabalho que todos devemos manter, independentemente da adversidade das circunstâncias – isto significa que nós cumprimos com o nosso trabalho, tal como os nossos filhos devem cumprir com os seus deveres, sem desleixo nem batotas (o que significa que não devemos fazer os trabalhos escolares por eles).
- Evitar a “confusão de tarefas”: o facto de estarmos em casa, e sermos mais a estar em casa, leva a maiores necessidades em matéria de tarefas domésticas a realizar. Todavia, também estas devem ser realizadas num horário definido, que não seja a meio do tempo de trabalho, porque isto diminui a concentração, aumenta o erro e potencia a tal percepção de incapacidade e insuficiência.
- A realização destas tarefas domésticas acrescidas deve envolver a colaboração de todos, miúdos e graúdos, na medida das suas capacidades. Além de isto ser responsabilizador é, também, uma forma de acentuar a dimensão de partilha, enquanto pressuposto essencial da vida em família.
- Envolver as crianças e os adolescentes na organização de álbuns de fotografias antigas será uma forma de lhes contar a história familiar, despertando a sua curiosidade e reforçando o seu sentimento identitário e de pertença.
- Para os mais pequenos, e nas actividades de arrumação, tentar encontrar materiais que possam ser reciclados e transformados. Além de ser uma forma de ocupar o tempo e de desenvolver a criatividade, permite uma consciencialização acerca da importância de evitar o desperdício e de reutilizar os objectos.
- Limitar a utilização da Internet, não esquecendo que é fundamental que sejam os próprios pais a dar o exemplo. Não se trata de proibir a utilização das tecnologias – nunca, como hoje foram tão necessárias – mas de definir tempos para a sua utilização, substituindo-a, por exemplo, pela recuperação dos velhos jogos de tabuleiro, pelo simples “jogo dos países”, ou por sessões de cinema com direito a pipocas.
- Propor, a toda a família, a escrita: de um conto, de um diário, de pensamentos, de poemas – é algo que, mais tarde, constituirá um interessante documento histórico-biográfico acerca da vivência desta fase.
- Evitar noticiários à hora das refeições e aproveitar esse tempo para conversar em família, esclarecendo dúvidas, recordando momentos divertidos e fazendo planos de futuro – isto cria uma maior sensação de segurança, reforça o sentimento de esperança e a crença na capacidade de superação.
- Recuperar velhas habilidades e ensiná-las aos mais novos: coser, bordar, trabalhar madeira, construir um tear. Será, para eles, uma revelação e, para a maior parte de nós, a surpresa de reencontro com habilidades que julgávamos esquecidas.
- Evitar discussões conjugais, que são, como se sabe, mais comuns em situações de tensão, de incerteza e de uma convivência “anormalmente forçada”, mas que prejudicam todo o ambiente familiar e aumentam as inseguranças.
- Fomentar as relações intergeracionais: telefonar aos avós, fazer videochamadas (se possível) são formas de ajudar os mais velhos a combater a percepção de isolamento e a tristeza, sentindo que, mesmo à distância, continuam a ser lembrados e amados. E, nestas conversas, apelar às suas memórias e à sua experiência de vida, pedindo-lhes conselhos úteis para o quotidiano ou, até, receitas de culinária.