Covid-19
Em tempo de pandemia, a fotografia de autor vai à janela ver o mundo
Num período em que ser fotógrafo exige um enorme esforço de criatividade, a iniciativa Da Minha Janela Vejo o Mundo, levada a cabo online pela depósito-loja portuense The Cave Photography, vem provar que ainda é possível estar confinado entre quatro paredes e continuar a disparar. “E com bom gosto”, remata Rui Pinheiro, um dos proprietários, que, em conjunto com Miguel Refresco, deu origem ao projecto.
A open call divulgada pela organização “convida todos os fotógrafos a submeter uma imagem fotográfica criada a partir de casa, durante o período do estado de emergência”, explica o porta-voz em entrevista ao P3. Três imagens por dia, dos mais diversos autores, são publicadas, desde o dia 18 de Março, nas redes sociais da The Cave Photography – nomeadamente, no Facebook e no Instagram. “O resultado é muito particular”, aponta Rui Pinheiro, ao P3. “As fotografias são produzidas por um grupo muito heterogéneo de fotógrafos, desde fotojornalistas a fotógrafos que têm formação em Belas Artes. Só a qualidade não é heterogénea, mas sim consistentemente alta.”
O conjunto de imagens retrata a vida quotidiana do país num período de absoluta excepção e "revela a forma como estes fotógrafos constroem a visão de um mundo em quarentena". “Há fotógrafos extraordinários por todo o território que estão a revelar estar à altura do desafio que lançámos”, refere Rui Pinheiro. “Conseguir, entre quatro paredes, fotografar sem perder o cunho autoral é um exercício de grande dificuldade e que tem sido superado por todos.” E destaca o trabalho de alguns dinossauros da Fotografia portuguesa, como Augusto Brázio, Valter Vinagre ou Lara Jacinto, que também contribuíram com imagens; ou de fotógrafos menos conhecidos, mas “com um corpo de trabalho muito interessante”, como Joana Soda ou Filipa Castro.
O que faz realmente a diferença em Da Minha Janela Vejo o Mundo? “A qualidade da rede de fotógrafos que participa nesta iniciativa e a curadoria do The Cave Photography”, sublinha Pinheiro. “O projecto tem recebido bastante atenção da parte dos fotógrafos e temos mais imagens do que aquelas que iremos publicar. O processo de selecção é importante para garantir o máximo de qualidade.” Uma vez terminado o período de estado de emergência, o depósito-loja gostaria de, porventura, publicar uma selecção de imagens num suporte físico – ou então de expô-la no espaço que, por ora, se encontra encerrada devido às medidas de contenção impostas pelo Governo.