Há 50 anos chegou a notícia que ninguém queria ouvir: os Beatles acabaram
No dia anterior, McCartney enviara um comunicado à imprensa anunciando o primeiro álbum a solo. No dia seguinte, a notícia não era o álbum, mas aquilo que o comunicado sugeria. “Paul abandona os Beatles”, titulavam os jornais de 10 de Abril de 1970. A banda mais importante do século XX chegava ao fim.
No dia anterior, Paul McCartney enviara à imprensa um comunicado a anunciar o seu primeiro álbum a solo. Fora gravado em casa, com McCartney a tocar todos os instrumentos, acompanhado ocasionalmente pela mulher, Linda. Por isso mesmo, o comunicado referia que era um álbum sobre “lar, família e amor”. O álbum que chegaria às lojas uma semana depois não foi, porém, aquilo em que todos os que leram o comunicado centraram atenções.
No comunicado, sob a forma de entrevista, uma das perguntas abordava planos futuros para gravações com os Beatles. Não existem, respondeu McCartney. Antevê um tempo no futuro em que a parceria de composição Lennon-McCartney volte a tornar-se activa?, perguntava-se depois. A resposta veio na forma de três letras, uma palavra: “Não”. No dia seguinte, do Daily Mirror ao New York Times, as capas anunciavam a monumental novidade: “Paul abandona os Beatles” — que era o mesmo que dizer, os Beatles acabaram. Foi exactamente há 50 anos, a 10 de Abril de 1970.
Sete meses antes, fora editado Abbey Road, o último álbum a ser gravado pela banda e o penúltimo a ser editado. Em Maio de 1970, Let it Be chegava para encerrar a discografia. Desaparecia a banda mais importante do século XX, a banda que foi mais do que uma banda, que representou um levantamento cultural, um sobressalto social, uma banda que, disco após disco, absorveu as rápidas mudanças e, ao mesmo, foi instigadora das mesmas. Fê-lo do grito juvenil de She loves you à exploração vanguardista em estúdio de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, da vitalidade e alegre rebeldia de Hard Day's Night, o filme, ao psicadelismo de Yellow Submarine, o cinema de animação, do interesse pela música indiana de Harrison ao apreço, tanto pelo cancioneiro pré-Segunda Guerra Mundial quando por compositores como Stockhausen, de McCartney.
Uma foto revelada esta sexta-feira mostra-os antes de tudo começar verdadeiramente. Descoberta pela empresa especializada em artigos históricos musicais Track LTD, mostra John Lennon, Paul McCartney e George Harrison em actuação em Liverpool, em 1959. Eram nessa altura os Quarrymen, uma das muitas bandas da cidade a canalizar para Inglaterra a energia rock'n'roll vinda dos Estados Unidos. No ano seguinte, os Quarrymen transformavam-se em Beatles. Em 1962, o primeiro baterista, Pete Best, dá lugar a um certo Ringo Starr. Dia 5 de Outubro desse ano foi editado Love me do, o primeiro single da banda. O futuro acabara de chegar e demorar-se-ia pelos oito anos seguintes, farol de mudança numa década vivida a um ritmo avassalador.
Dia 9 de Abril, McCartney precipitou o desenlace inevitável para todas as tensões vividas nos bastidores entre os Fab Four. Havia um George Harrison que se sentia menorizado e que queria mais espaço para gravar as suas canções, havia os rumores de que a presença de Yoko Ono destabilizara o equilíbrio da banda, havia a evidência de que tinham crescido juntos a viver algo único, inimaginável, e que era impossível isso não deixar consequências. Havia sinais de que o fim estava próximo — Lennon a exclamar numa reunião que queria “o divórcio” —, havia sinais de que, na verdade, tudo continuava como antes — noutra reunião, pela mesma altura, a banda combinava calmamente pormenores em relação a um novo álbum.
Até que chegou o comunicado de McCartney a anunciar o seu álbum. “Não”, respondeu ele duas vezes. O destino ficava selado. “Os Beatles acabaram”. Notícia do dia. 10 de Abril de 1970.