Covid-19: Pandemia pode deixar mais de 500 milhões de pessoas na pobreza

Organização recomenda ajuda financeira directa às pessoas mais afectadas, apoio prioritário às pequenas empresas e perdões de dívida aos países mais pobres até ao fim do ano.

Foto
No Gana, um perdão da dívida em 2020 daria para ajudar financeiramente 16 milhões de pessoas durante seis meses Reuters/FRANCIS KOKOROKO

A organização não-governamental britânica Oxfam estima que a pandemia do novo coronavírus pode vir a deixar mais de 500 milhões de pessoas em situação de pobreza, na ausência de medidas de apoio aos países mais desprotegidos.

Num relatório intitulado “O Preço da Dignidade”, a Oxfam indicou que entre 6% e 8% da população mundial pode cair na pobreza, devido à paragem das economias para controlar a propagação do vírus.

“Isto pode significar à escala mundial um recuo de dez anos na luta contra a pobreza e um recuo de 30 anos em certas regiões, como a África subsariana, o Médio Oriente ou a África do Norte”, com mais de metade da população mundial ameaçada de cair em situação de pobreza após a pandemia, diz a Oxfam.

O aviso da organização foi divulgado antes das reuniões, previstas para este mês, do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, bem como dos ministros das Finanças do G-20.

Sem sistemas de protecção social, os países mais pobres vão ser os mais afectados, tal como as populações com menos recursos, designadamente as mulheres.

Para evitar estes cenários, a Oxfam recomendou a atribuição de uma ajuda financeira directa às pessoas mais afectadas, um apoio prioritário às pequenas empresas, e o condicionamento de ajuda financeira às maiores empresas para que tomem medidas a favor das populações.

A Oxfam defendeu também a anulação, este ano, dos reembolsos da dívida por parte dos países mais pobres, citando o exemplo do Gana, que poderia “dar 20 dólares por mês a cada uma das suas 16 milhões de crianças, pessoas com limitações e pessoas idosas durante seis meses”, se fosse libertado dos prazos de pagamento da dívida.

Entre as outras recomendações da Oxfam estão o aumento dos recursos do Fundo Monetário Internacional para lhe permitir ajudar os países mais pobres, o aumento imediato da ajuda pública ao desenvolvimento dos países dadores e a criação urgente de impostos de solidariedade sobre os lucros extraordinários, as maiores fortunas, os produtos financeiros especulativos e as actividades com um impacto negativo sobre o ambiente.