Hotelaria negoceia com Governo e plataformas alterações aos reembolsos
Associação da Hotelaria de Portugal estima, com base num inquérito, que haja 51 mil trabalhadores da hotelaria em layoff este mês.
Confrontados com sérias dificuldades de tesouraria por causa dos impactos do novo coronavírus, os hotéis procuram minimizar os efeitos negativos através de medidas como uma alteração no regime de reembolsos.
De acordo com a presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), Cristina Siza Vieira, está em curso um processo de negociação com a secretaria de Estado do Turismo, em articulação com o que se verifica a nível europeu, e que envolve grandes plataformas de reservas como a Expedia e o Booking, de modo a diferir os reembolsos devidos aos clientes.
Em vez de as plataformas devolverem logo o valor das reservas aos consumidores, que não puderam viajar e hospedar-se por motivos de força maior (como o encerramento de fronteiras), a ideia é, conforme explicou a dirigente da AHP numa conferência de imprensa online, permitir a emissão de vouchers transmissíveis ou remarcações sem custos adicionais e com posterior direito ao reembolso caso se opte depois por não viajar (diferindo assim os pagamentos).
Isso, disse Cristina Siza Vieira, permitiria “aliviar a tesouraria” e dar fôlego aos hotéis, “que já tinham recebido esse dinheiro”. Segundo esta responsável, ainda há alguns pormenores em aberto, mas esta quarta-feira a AHP já deverá ter uma proposta final para entregar ao Governo.
Num novo inquérito feito aos associados sobre os efeitos do surto da Covid-19 (com 450 respostas entre 1 e 7 de Abril), depois daquele que fez há um mês, a AHP refere que no topo das principais dificuldades encontradas está a questão dos cancelamentos das reservas junto das plataformas, mesmo quando já há um acordo entre o cliente e o hotel. Isso, afirmou a responsável da AHP, gere “atrito” entre o sector e as plataformas.
Cinco dezenas de milhares em layoff
Outra medida que ajuda as empresas a defender a tesouraria é o recurso ao layoff simplificado, com suspensão ou redução do tempo de trabalho dos funcionários.
De acordo com os resultados do inquérito, 93,8% dos inquiridos afirmaram que pretendem implementar o layoff. Destes, perto de 60% planeiam abranger entre 80% a 100% dos seus funcionários, o que leva a AHP a estimar que haja 51 mil trabalhadores da hotelaria em layoff este mês (com uma média de 85%).
Números que devem “pecar por defeito” e ainda se farão sentir nas estatísticas oficiais uma vez que, de acordo com Cristina Siza Vieira, “serão muito poucos” os pedidos de layoff já no terreno.
De acordo com os últimos dados oficiais, quase 32 mil empresas colocaram 552 mil trabalhadores em layoff desde que o mecanismo simplificado entrou em vigor na sua versão revista até ao início de sábado passado (isto é, em cerca de uma semana).
Com o sector a pensar numa retoma a partir de Junho – o que fará diminuir o risco de despedimentos - , refizeram-se as estimativas com uma Páscoa de portas fechadas. De acordo com os dados do inquérito, 89% dos hotéis não vão abrir no mês de Abril, com impactos profundos nas receitas.
Entre as visões mais optimistas e as mais pessimistas, as estimativas de perdas no primeiro semestre vão dos 1,28 mil milhões de euros aos 1,94 mil milhões (a esmagadora maioria prevê quebras superiores a 70%).
Dos inquiridos, 38% afirmam ter já recorrido às linhas de financiamento, e outros 37% admitem recorrer, mas ainda não o fizeram.
O principal apoio é o da linha de 900 milhões de euros lançada recentemente para o sector de empreendimentos e alojamentos turísticos (dos quais 300 milhões são para as empresas de menor dimensão). Segundo Cristina Siza Vieira, esta linha irá conhecer um reforço das verbas.
Outra linha que tem merecido a atenção do sector é a dedicada apenas às microempresas do turismo e empresários em nome individual, no valor de 60 milhões de euros.
E se a pandemia do novo coronavírus está a atingir todo o sector (incluindo o alojamento local) ao mesmo tempo, a ideia da AHP é a de que a retoma, quando chegar, não será igual para todos. Começará, de acordo com Cristina Siza Vieira, pelo turismo interno (devido a factores como o receio de viajar e os danos sentidos pelas companhias aéreas), ajudando à recuperação de regiões como o Norte, Centro e Alentejo. Já cidades como Lisboa e Porto terão “outro ritmo de crescimento”, que dependerá da evolução do turismo de negócios.