Coronavírus
Andrà tutto bene, uma “crónica emocional” para nos unir em tempo de covid-19
O cantor e compositor Cristóvam e o realizador Pedro Varela conheceram-se nos “míticos” estúdios Namouche, enquanto Pedro filmava Os Filhos do Rock. Criaram uma amizade que se foi mantendo ao longo dos anos e dos projectos, o mais recente surgui durante a quarentena: a música Andrà tutto bene (em português, Vai ficar tudo bem). Cristóvam escreveu a letra, Pedro Varela criou o filme e o resultado final percorreu a Internet, comovendo quem está de quarentena em casa ou na linha da frente a combater o surto de covid-19.
“A música surgiu da mesma forma que surgem quase todas. É sempre o meu escape, a forma como coloco cá fora os meus sentimentos. Sempre que sinto algo mais forte, agarro na minha guitarra. E desta vez não foi exceção“, conta Cristóvam ao P3. Numa altura em que todos partilham um sentimento de ansiedade, o músico colocou-o em palavras. O título em italiano foi inspirado nos desenhos de arco-íris das crianças nas varandas de Itália. Para Cristóvam, a fé inocente das crianças, sem noção da gravidade da situação, é o que falta aos adultos agora. “O principal é mandar uma mensagem de esperança, de fé e de que estamos todos unidos nesta situação.”
Logo nos versos iniciais, Pedro Varela percebeu a mensagem e convenceu Cristóvam de que era preciso fazer um filme “num tom de crónica e identificação deste momento que estamos a viver”. Habituado a trabalhar à distância, o processo criativo separado pelo oceano não foi problema — Pedro em Lisboa e Cristóvam na Terceira, nos Açores.
Juntou imagens de arquivo de projectos passados e outras de órgãos de comunicação social. Pediu ainda a amigos que partilhassem partes da sua vida, coisas do quotidiano, como "imagens da avó ou gravações a fazer ginástica na sala". "A história vai-se descobrindo dentro dos pedaços da vida real.” Como fio condutor aparece Chloe, uma jovem portuguesa que estuda cinema em Paris. Inspirado pelo vídeo do tema de Bob Dylan Subterranean Homesick Blue, Pedro dirigiu, pela internet, as gravações de Chloe, que segura nos cartazes com a letra ao longo do vídeo. E assim se construiu uma “crónica emocional” para transmitir “alguma paz e gratidão a quem está a passar por isto.”
Inesperadamente, a música ganhou proporções inesperadas, com milhares de visualizações e partilhas nas redes sociais. No Brasil, foi muita difundido pelo WhatsApp. Até o apresentador da NBC que aparece no filme, Raj Mathai, viu o vídeo e enviou um email “a dizer que adorou”.
O YouTube e as redes sociais foram inundades de comentários e mensagens positivas sobre a música, algumas até de agradecimento, conta o músico. “Há pessoas mesmo sozinhas e eu acho que o papel da arte nestes momentos é fazer com que não se sintam tão sozinhas. Estão a ouvir uma canção que relata exactamente o que elas estão a sentir e acaba por ser um bocado uma companhia.”
“Eu fiz uma canção e o Pedro fez um filme sobre uma coisa que todos nós estamos a sentir”, resume, de forma simples, Cristóvam. “É uma coisa muito rara conseguir comunicar de forma tão directa e tão geral com as pessoas.”