Covid-19: Rússia envia “ajuda humanitária” para os Estados Unidos
Críticos do Presidente norte-americano, Donald Trump, dizem que se trata de uma manobra de propaganda. Na semana passada, Moscovo enviou aviões para Itália, o país com mais mortes por covid-19.
Um avião de carga do Exército russo partiu esta quarta-feira de um aeroporto nos arredores de Moscovo rumo aos Estados Unidos, levando a bordo equipamento médico, incluindo máscaras, para ajudar os norte-americanos no combate ao novo coronavírus. A operação, a que o Kremlin se refere como “ajuda humanitária”, levou críticos do Presidente Donald Trump a acusá-lo de participar na propaganda russa.
A oferta de equipamento médico foi feita pelo Presidente russo, Vladimir Putin, numa conversa telefónica com Donald Trump no início da semana.
Na segunda-feira, na conferência de imprensa diária sobre os planos da Casa Branca para o combate à pandemia no país, o Presidente norte-americano elogiou as suas “excelentes relações com muitos países”.
“A Rússia enviou-nos um enorme carregamento de equipamento médico, o que foi muito simpático”, disse Donald Trump.
Apesar de o Presidente norte-americano ter dito que o carregamento já tinha sido enviado, o avião militar russo só partiu esta quarta-feira em direcção aos Estados Unidos.
“Trump aceitou com gratidão esta ajuda humanitária”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, na noite de terça-feira, citado pela agência de notícias russa Interfax.
“Ao oferecer assistência aos colegas dos Estados Unidos, o Presidente [Putin] parte do princípio de que quando os fabricantes norte-americanos de equipamento médico ganharem balanço, também eles vão estar disponíveis para nos ajudar se for preciso”, disse Peskov.
Ajuda a Itália
Na semana passada, a Rússia enviou nove aviões com equipamento médico para Itália, o país com mais mortes por covid-19 em todo o mundo (12.428 até esta quarta-feira). A operação serviu também para sublinhar a falta de resposta da União Europeia ao drama italiano, numa fase inicial – desde então, vários países europeus enviaram máscaras e fatos para Itália, e a Alemanha recebeu nos seus hospitais doentes italianos.
Mas, segundo o jornal italiano La Stampa, 80% do material enviado pela Rússia “estava completamente inutilizado ou era de pouca utilidade em Itália”. De acordo com responsáveis do Governo italiano, citados sob anonimato, entre a carga havia equipamento para desinfecção bacteriológica e um laboratório móvel para esterilização química e bacteriológica, mas não os ventiladores e os equipamentos pessoais de protecção de que o país precisava.
EUA enviaram máscaras para a China
O carregamento russo vai chegar aos Estados Unidos quase dois meses depois de a Casa Branca ter enviado para a China 17,8 toneladas de “máscaras, batas, respiradores e outro material vital”.
Nos últimos dias e semanas, governadores de vários estados norte-americanos e profissionais de saúde têm-se queixado de falta de equipamentos de protecção pessoal, principalmente nas regiões mais afectadas pela pandemia do novo coronavírus, como o estado de Nova Iorque.
Mas, no dia 7 de Fevereiro, um comunicado assinado pelo secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, dava conta da doação à China de 17,8 toneladas de equipamento médico, “como prova da generosidade do povo americano”, numa altura em que a China registava mais de 40 mil casos do novo coronavírus e mais de 800 mortes.
Na mesma altura, o Presidente norte-americano assegurava que os Estados Unidos tinham a situação “sob controlo” e dizia, em comícios, que as notícias sobre a possibilidade de o novo coronavírus vir a perturbar o país eram “um embuste” dos media e do Partido Democrata, comparando-as às acusações de que a Rússia interferiu nas eleições presidenciais de 2016, que levaram ao seu impeachment.
De acordo com os números mais recentes, os Estados Unidos registaram quase 190 mil casos do vírus SARS-coV-2 e mais de 4000 mortes da doença covid-19. É o país com mais casos em todo o mundo, e só três países têm mais casos do que o estado de Nova Iorque (76 mil).
Depois de um período de aproximação entre os Estados Unidos e a Rússia, entre 2009 e 2014, que levou ao reforço da colaboração entre Moscovo e a Aliança Atlântica, as relações entre os dois países agravou-se nos últimos anos com a invasão e anexação da península ucraniana da Crimeia pela Rússia.
Apesar de as sanções económicas e financeiras aplicadas pelos Estados Unidos – e, separadamente, pela União Europeia – se manterem em vigor, a chegada de Trump à Casa Branca, em Janeiro de 2017, levou a uma aproximação entre os líderes dos dois países.
Desde então, a influência da Rússia no mundo cresceu com o envolvimento do país na guerra da Síria, onde o seu poderio militar foi determinante para que o Presidente sírio, Bashar al-Assad, garantisse a vitória militar no terreno.
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