Comboios e metros com quebras da ordem dos 70% a 80% na procura
Metro de Lisboa, Metro do Porto e CP ajustam oferta mas de modo a cumprir que não há lotação acima de 33,3%. CP vai passar a limitar lugares no longo curso e diz que já houve “situações de procura inexistente” para alguns Intercidades.
Com grande parte do país em casa e com deslocações controladas, os transportes públicos assistem a um encolhimento da procura, ao mesmo tempo que têm de ajustar a sua procura à lei que obriga a que não haja uma ocupação superior a 33,3%.
O caso do Metropolitano de Lisboa serve como uma espécie de termómetro dos impactos do novo coronavírus: até ao dia 8 de Março o número de passageiros (medido por número de validações) manteve o ritmo de crescimento, mas logo depois entrou em terreno negativo. No dia 9, quando comparado com Fevereiro, houve um ligeiro decréscimo de 0,8%, que se foi agravando de dia para dia. A 16 de Março, data em que as escolas encerraram, a queda foi de 69%, de acordo com os dados fornecidos pela empresa ao PÚBLICO.
Ao todo, a queda já chegou aos 48,4% em termos de validações em Março, interrompendo um ciclo de subidas e recordes de passageiros (nomeadamente turistas) que se alargava a todo o sector.
No caso do Metro do Porto, fonte oficial refere um decréscimo progressivo que chegou aos 80% no dia 17 – último dia em que os validadores estiveram ligados, sendo que o mesmo ocorreu em Lisboa, onde igualmente foram desligados por questões de higiene e segurança no contexto da nova epidemia.
“Procura inexistente” em alguns comboios
No caso da CP, a empresa diz que a quebra nos comboios Intercidades está nos 90%, e que foram mesmo “registadas situações de procura inexistente para alguns destes comboios”. No caso dos Alfa Pendular o número baixa, mas pouco, para 85%, enquanto nos comboios urbanos a queda está nos 70%.
Devido a estes números, aliás, fonte oficial da CP diz que a empresa vai reduzir os comboios de longo curso já a partir desta quarta-feira, 25 de Março. De acordo com a CP, vão circular por dia 12 comboios Alfa Pendular (54% da oferta regular) e 40 Intercidades (69% da oferta regular), remetendo mais pormenores sobre as supressões para a informação disponibilizada no site a partir do final desta terça-feira.
Controlo e segurança
Uma questão que se coloca é a forma como se controla, neste tipo de transportes, que a lotação não é superior a 33,3%, conforme manda a lei desde segunda-feira para “garantir a distância de segurança entre passageiros”?
O Metro do Porto explica que a redução da oferta é muito menor do que a queda da procura – a actual oferta é de 60% face a condições normais –, e que foram tomadas “as medidas adequadas” para que a fasquia de 1/3 não seja ultrapassada, nomeadamente em termos da tipologia de veículos usados e de horários. Depois, entre pessoal e acesso às câmaras de videovigilância das estações, há monitorização “em permanência da operação” e, se necessário, pode-se “imediatamente injectar mais veículos em linha”, refere fonte oficial da empresa.
No caso do metro de Lisboa a explicação é semelhante, com a empresa a afirmar que a oferta “foi definida tendo em conta a procura que se tem vindo a registar e a capacidade média dos comboios” para fazer face ao limite de lotação máxima. “O Metropolitano de Lisboa encontra-se a verificar a afluência dos passageiros em função da procura real”, refere fonte oficial, acrescentando que essa monitorização já possibilitou ajustes à operação esta segunda-feira.
A ausência de validadores, que também retira o acesso a dados imediatos e fiáveis da procura, vai ser reavaliada pelo metro de Lisboa até ao final deste mês.
Vendas limitadas no longo curso
Por parte da CP, fonte oficial explica que no caso dos Alfa Pendular e dos Intercidades estes passam a ter, a partir desta terça-feira, vendas de lugares “limitadas a um terço da sua capacidade”, garantindo assim a distância de segurança entre passageiros. Já no caso dos comboios urbanos, onde não há reserva de lugar, a CP diz que existe uma “monitorização permanente das suas taxas de ocupação” para “proceder a eventuais novos ajustamentos” no “contexto dos recursos humanos e materiais disponíveis”.
Há, depois, uma outra questão, que remete para o agravamento da saúde financeira de empresas como a CP e o metro de Lisboa. Neste último caso, a transportadora diz que tem em curso “a definição de um conjunto de estratégias e de acções para o efeito a desenvolver de acordo com as orientações que forem emanadas pela sua tutela técnica e financeira”, ou seja, Ministério do Ambiente e Ministério das Finanças.
Táxis com quebras, Uber não comenta
A lei que já está em vigor, e que abrange também os navios (Transtejo/Softlusa) e autocarros, impõe ainda regras aos táxis e aos veículos descaracterizados de transporte de passageiros (TVDE) ligados a plataformas como a da Uber. Em ambos os casos “deve restringir-se o acesso ao banco dianteiro”, renovar o ar interior e limpar as superfícies.
Por outro lado, os presidentes das câmaras (responsáveis pelos contingentes que limitam o número de veículos) podem “definir condições excepcionais de circulação”, dando-se como exemplo a circulação alternada de veículos, conforme a matrícula seja par ou ímpar e alinhando essa referência com o dia do mês.
Questionada pelo PÚBLICO sobre uma eventual redução da procura e impactos na oferta, fonte oficial da Uber afirmou que não estavam a comentar impactos locais da covid-19. Nos táxis, fonte oficial da Federação Portuguesa do Táxi (FTP) refere uma actual quebra da ordem dos 2/3 dos serviços.