Este Dia Mundial da Árvore, primeiro dia da Primavera, lembra a importância destes seres vivos. As árvores sustêm a biodiversidade, fixam o solo e ajudam a controlar o clima. Mas à medida que o clima muda, também as árvores irão mudar. Como lidar com esta incerteza?
Basta ver as diferenças na paisagem para perceber: as árvores são diferentes no Minho atlântico e no Algarve de clima mediterrânico. Os carvalhos, os pinheiros e os eucaliptos dominam a Norte e, a Sul, sobreiros e azinheiras toleram melhor a seca. Se o clima é diferente, as árvores também são. E se o clima muda, também as árvores mudam. A floresta Laurissilva, que ainda hoje cobre as encostas do Norte da ilha da Madeira, é disso exemplo: até à última Idade do Gelo, cobriu parte da Europa continental, incluindo Portugal, mas só resistiu no clima suave e húmido das ilhas.
O desafio que a Humanidade hoje enfrenta é imenso: travar as alterações climáticas em curso e adaptar-se a um clima em mudança. Árvores monumentais, que sobreviveram vários séculos, ficam cada vez mais ameaçadas. Expostas a verões mais quentes e a chuvas irregulares, murcham ou acabam por sucumbir à doença.
Também a ideia de vegetação autóctone terá de ser revista, inevitavelmente. É certo que os carvalhos dominaram, em tempos, as matas da Península Ibérica. Mas, tendo em conta que o clima vai continuar a evoluir, será de supor que os carvalhos se irão adaptar?
Quando a terra aquece, e tentando imaginar as paisagens do futuro, talvez se possa olhar a sul. Em Marrocos prosperam árvores mais resistentes à seca, que travam o avanço dos desertos. E muito mais além, no limite sul do deserto do Sara, não faltam árvores resilientes. As árvores de fruto, como a jujuba ou a mangueira, resistentes à seca, ajudam a alimentar populações locais.
Talvez pareça descabido pensar em árvores de clima tropical seco. Contudo, já se produzem em Portugal continental frutos que seriam impensáveis num clima pré-industrial: anona, papaia ou manga. Sabe-se que a bacia do Mediterrâneo tem aquecido mais do que a média do planeta, tornando-a num dos Pontos Quentes do Aquecimento Global. Daí que, sem preconceitos, seja fundamental testar novas espécies e perceber quais serão as árvores do futuro. Em 2050, o clima será mais quente, quando as árvores plantadas hoje terão crescido.
Significa isto que as árvores autóctones devem ser esquecidas? Muito pelo contrário. Mantê-las irá exigir mais dedicação. Há equipas empenhadas em salvar o montado de sobro ou em recuperar as árvores ao longo dos rios. E a História mostra como algumas árvores resistem a alterações climáticas. A oliveira milenar em Mouriscas conta com quase 3000 verões impiedosos e, mesmo assim, continua a produzir azeitonas. Oliveiras milenares como esta, não só resistem melhor às variações do clima, mas também produzem azeite de melhor qualidade.
As árvores serão sempre importantes para o planeta e para a Humanidade. Regulam o clima, protegem o solo da erosão e suportam a biodiversidade. As raízes fixam-nas ao mesmo lugar, mas o clima em mudança vai deixar marcas. Para manter a vida, e para a nossa resiliência, saibamos plantar árvores novas e cuidar das que nos viram crescer.