Autoeuropa alarga paragem até 29 de Março
Impacto do coronavírus força maior exportador português a parar. Mas a suspensão afectará todo o grupo na Europa, que vê o sector automóvel a fechar.
A fábrica da Autoeuropa vai parar até 29 de Março, segundo decisão anunciada nesta terça-feira. A paragem tem efeito imediato, embora na segunda-feira já tinham sido suspensos os três turnos de laboração por falta de pessoal.
A empresa aplicará a política dos down days, segundo a Comissão de Trabalhadores. Poré, os trabalhadores que prefiram aderir às regras que permitem ficar em casa para cuidar dos filhos, recebendo 66% do salário base, poderão optar por esta opção, segundo se lê num comunicado enviado aos trabalhadores, a que o PÚBLICO teve acesso.
A ferramenta do down days foi criada na VW Portugal em 2003, como solução para não despedir 800 pessoas face a uma baixa de produção. Os trabalhadores aceitaram então abdicar de aumentos durante dois anos e, em troca, instituiu-se os chamados down days. Na prática, cada down day de paragem é descontado dos 22 dias do 15.º mês pago aos trabalhadores.
Se a empresa tiver dez dias de down days num ano, os trabalhadores recebem 12 dias desse 15.º mês. Se houver 22 dias de down days, receberão apenas os 14 meses de salário praticados em Portugal. Se não houver down days, recebem 15 salários.
“Dada a presente e significativa deterioração nas vendas e a crescente incerteza sobre o fornecimento de peças às nossas fábricas, a produção tem de ser suspensa em unidades operadas pelo grupo”, afirmou o CEO do grupo Volkswagen, Herbert Diess, a partir da Alemanha, nesta terça.
A Comissão de Trabalhadores da fábrica portuguesa, que tem 5600 funcionários, “vê com bastante agrado que a VW Autoeuropa e a VW AG tenham tido em consideração a saúde dos trabalhadores e familiares”, afirmam os representantes dos operários, em comunicado. Fazem ainda votos para que esta paragem “restabeleça a normalidade” e ponha fim ao “sentimento generalizado de insegurança que se instalou dentro da fábrica”.
O grupo alemão, líder mundial na venda de carros, junta-se a uma lista de fabricantes que vão parar a produção devido ao coronavírus na Europa. O mesmo já tinha sucedido em finais de Janeiro e depois em Fevereiro na China, quando este país era o principal foco de contágio com o vírus SARS-CoV-2.
A paragem em Portugal foi anunciada esta manhã em comunicado pela direcção em Palmela. A unidade do grupo alemão da Volkswagen no distrito de Setúbal é o maior exportador nacional. Outras fábricas na Europa vão igualmente ser encerradas, segundo comunicado da equipa de gestão do grupo.
“A produção nas fábricas em Espanha, Portugal e na Eslováquia (Bratislava) bem como as fábricas da Lamborghini e da Ducati em Itália será interrompida esta semana, ao passo que a maioria das outras fábricas do grupo na Alemanha e na Europa preparam a sua interrupção, provavelmente por duas semanas. Na China, pelo contrário, retomou-se a produção, com a excepção das fábricas em Changsha e Urumqi”, lê-se no comunicado publicado a partir de Wolfsburgo, cidade alemã onde está a sede do grupo.
“A pandemia do coronavírus coloca-nos desafios financeiros e operacionais desconhecidos. Ao mesmo tempo, há preocupações sobre impactos económicos duradouros”, acrescenta. Fazer previsões para 2020 tornou-se um exercício impossível, anota ainda.
O grupo Volkswagen, que anunciou nesta terça os números finais do exercício de 2019, acompanha assim os rivais PSA (Peugeot-Citroën-Opel) e FCA (Fiat-Chrysler) numa paragem forçada da laboração devido à pandemia do novo coronavírus que continua a alastrar na Europa, sobretudo em países como Itália, Espanha, França, Reino Unido e Alemanha.
O grupo PSA, que tem uma fábrica em Mangualde com 1000 trabalhadores, anunciou ontem a paragem na Europa, com Mangualde a suspender a laboração a partir de dia 18.
A Renault já tinha anunciado o fecho temporário de fábricas em França. A Ford, por seu lado, suspendeu a unidade de Valência, em Espanha. Ferrari e Lamborghini fecharam as fábricas até 27 e 25 de Março, respectivamente.
A administração da VW já tinha proposto um aumento nos dividendos, depois de uma subida de 4,5% nas receitas com vendas de carros de passageiros, em termos consolidados, isto é, somando o desempenho de todas as marcas do grupo. O lucro antes de impostos subiu mais de 17%.
Em receitas, a Audi foi a única com variação negativa, mas o decréscimo na facturação levou o indicador do retorno das vendas a subir. Skoda, Seat, Bentley, Porsche facturaram mais em 2019, tal como a Scania e a MAN (camiões) e a empresa de serviços financeiros. Já a Volkswagen Veículos Comerciais registou também uma pequena quebra.