Coronavírus: Acentuam-se os sinais de que a quebra na economia portuguesa pode ser drástica

Primeiros indicadores oficiais conhecidos na China mostram quebras inéditas no consumo, produção e investimento. Para Portugal pode ser um sinal do que aí vem, numa altura em que o turismo pára e algumas das maiores empresas exportadoras deixam de funcionar

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LUSA/FERNANDO VELUDO

O fecho temporário de algumas das empresas com maior peso na produção industrial e nas exportações do país, o fecho total do turismo com o aperto decidido nas fronteiras e o exemplo vindo dos indicadores económicos na China, o primeiro país a sentir o choque do coronavírus, constituem os sinais mais recentes a confirmarem que economia portuguesa pode estar passar em Março por uma quebra drástica da sua actividade. 

Neste momento, já não existem dúvidas que a economia nacional sofreu na parte final do primeiro trimestre deste ano uma deterioração de condições significativa.

As restrições nos movimentos das pessoas trazido pela necessidade de conter o contágio do novo coronavírus fecharam lojas e restaurantes, diminuíram o número de turistas a entrarem no país, reduziram a mão-de-obra disponível em muitas empresas, aumentaram a incerteza em relação ao futuro e reduziram a procura proveniente de outros.

Consumo, investimento e exportações no sector privado irão ser afectados de uma forma que apenas dificilmente pode ser compensada por um reforço da intervenção do sector público.

A questão que ainda falta responder é a de qual será a dimensão deste efeito na economia. E, durante as últimas semanas, chegam a cada dia que passa novos sinais negativos.

Esta segunda-feira, o primeiro sinal negativo veio da China. Numa altura em que se assiste finalmente a uma melhoria do cenário no que diz respeito ao controlo da epidemia, começam a ser divulgados os primeiros indicadores económicos referentes ao período em que a China foi afectada pelo surgimento do novo coronavírus. E os números agora conhecidos confirmam as piores expectativas, com quebras inéditas e muito acentuadas na produção de bens, no consumo e no investimento.

De acordo com os dados publicados pela autoridade estatística chinesa, a produção industrial durante os dois primeiros meses do ano caiu 13,5% face ao mesmo período do ano anterior, a primeira descida de que há registo. De igual modo, as vendas a retalho caíram 20,5%, também a primeira queda registada na série histórica disponível para este indicador. E, no investimento, o cenário foi semelhante: a diminuição foi de 24,5%.

Estes números confirmam a existência de um verdadeiro colapso no nível de actividade económica na China durante o período em que as autoridades impuseram medidas de contenção severas para tentar travar a expansão do vírus. 

Estes números devem servir de alerta para outros países, como Portugal, onde o vírus chegou mais tarde, e que, estando agora a aplicar as mesmas medidas de contenção, podem esperar igualmente travagens muito significativas em indicadores como o consumo, a produção ou o investimento, a partir de Março (e cujos indicadores oficiais apenas deverão começar a ser divulgados já na fase final de Abril).

Os números da China apontam para um impacto com uma ordem de grandeza semelhante aos projectados para Portugal numa análise realizada pelo economista da Nova SBE Francesco Franco. Nesse estudo, que se centrou no impacto sentido por via da diminuição da procura de bens e serviços consumidos fora de casa, da redução da oferta de trabalho na produção de bens e da redução da oferta de trabalho na produção de serviços que não podem ser consumidos online, os números apontam para a existência de perdas no valor acrescentado próximas de 4000 milhões de euros ao mês, o que significa, cerca de 25% do total.

Como se não bastasse o exemplo vindo da China, aqui em Portugal surgiram também esta segunda-feira novos motivos para antecipar quebras na economia. As fabricantes automóveis Autoeuropa e PSA anunciaram a suspensão do seu funcionamento, em mais um rombo para a produção industrial do país e para as suas exportações.

Em particular, a Autoeuropa tem sido ao longo dos anos, e nos últimos tempos em particular, uma das empresas que mais contribuem para as exportações do país. Devido ao sucesso comercial do modelo T-Roc, cuja produção é um seu exclusivo mundial, a empresa voltou em 2019 ao topo do ranking das maiores exportadoras nacionais, sendo que o sector automóvel vale 15% das vendas ao exterior do país.

Outra notícia com impacto nas exportações do país, neste caso de serviços, foi o apertar das entradas nas fronteiras portuguesas decidido pelo Governo. O sector do turismo, um dos mais evidentes afectados pela crise actualmente vivida, fica assim praticamente parado.

Sendo o impacto em Março provavelmente muito negativo, falta agora saber, para se ficar com uma ideia mais concreta da forma como o desempenho da economia no total de 2020 pode ser afectado, qual a duração das medidas de contenção no combate ao coronavírus e qual o verdadeiro efeito das medidas orçamentais e monetárias lançadas pelas autoridades para mitigar o impacto económico negativo.

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