Coronavírus: Meninos, isto não são umas férias
“Medidas de contenção” não incluem combinar uma saída com os amigos, uma ida à praia, ao cinema ou a um concerto.
Segunda-feira à noite: a Universidade de Lisboa envia um comunicado à comunidade escolar, informando que as aulas presenciais estão suspensas. Terça-feira à noite: o jardim do Arco do Cego, perto do Instituto Superior Técnico, está cheio dos habituais convivas que partilham cervejas e gargalhadas. Quarta-feira de manhã: as praias da linha de Cascais estão cheias de jovens, muitos estudantes universitários, das diversas escolas pertencentes à Universidade de Lisboa, já que as outras instituições da capital (ISCTE e Nova) ainda não se decidiram pelo cancelamento das aulas.
Meninos — embora adultos têm de ser assim tratados dado o nível de irresponsabilidade —, a suspensão das aulas presenciais não é sinónimo de férias, mas de contenção, de cuidado. Afinal, o coronavírus não anda apenas pelos corredores da faculdade ou dentro da sala daquele professor mais palavroso, pode apanhar-se em qualquer sítio. Por isso, também não vale tentar combinar fazer os trabalhos de grupo na esplanada, por alguma razão a biblioteca da escola foi encerrada. O problema é que este é um vírus diferente porque, durante o seu período de incubação, ou seja, quase duas semanas sem sintomas, podemos transmiti-lo a outras pessoas.
E se não querem levar um raspanete, ao menos, leiam as parangonas, vejam as imagens que chegam de Itália. Também muitos italianos decidiram que a covid-19 era uma óptima oportunidade para ir às compras, passear, pôr as conversas em dia e agora é ver as cidades completamente vazias, com gente confinada às suas casas, sem poder sair, com medo do vírus contagioso. É disso que se trata, de um vírus contagioso. Segundo o professor Manuel Carmo Gomes: “A teoria matemática da epidemiologia de doenças transmissíveis prevê que um vírus com as características daquele que provoca covid-19 tem potencial para infectar pelo menos 80% da população mundial (!). A velocidade com que o fará depende de nós e das medidas de contenção que adoptarmos.”
Portanto, “medidas de contenção” não incluem combinar uma saída com os amigos, uma ida à praia, ao cinema ou a um concerto — aliás, a maior parte das salas de teatro e museus estão fechados e os concertos estão a ser adiados. E não é para vos aborrecer, é mesmo porque é necessário. O “distanciamento social” de que fala o Governo não é porque, de repente, ficamos pudicos ou moralistas, mas porque se transmite nos beijos e “dá cá mais cinco” — daí a importância de lavar as mãos, por exemplo. Isto é uma pandemia, não é uma brincadeira.
E o mesmo se recomenda às mães que, nos grupos de WhatsApp ou de Facebook, estão a combinar saídas com os filhos. Não é porque os grupos de risco são sobretudo os da faixa etária dos avós, que os filhos (ou as próprias) estão imunes ao vírus. As crianças, com menos de dez anos, “têm o mesmo risco de serem infectadas do que o resto da população e a razão por que não se têm observado surtos nas escolas deve-se apenas a que as crianças tendem a ter sintomas suaves”, diz Manuel Carmo Gomes no mesmo artigo. E ainda não se sabe até que ponto os mais novos são transmissores do vírus, entre eles e deles para os familiares.
Por isso, o melhor é pôr os olhos nos macaenses — Macau diagnosticou dez casos, o último no início de Fevereiro e implementou medidas rígidas que permitiram controlar a transmissão do vírus — e ficar em casa. Por mais difícil que nos pareça a vida confinada a quatro paredes há sempre formas de estarmos em contacto com os amigos sem nos pormos a nós ou aos outros em risco.