Tradições

Em Vinhais o Carnaval ainda não acabou

Os de Podence serão os mais conhecidos, mas os caretos de Vila Boa de Ousilhão também já ganharam fama e até têm direito a um livro. No Nordeste transmontano, ainda há Entrudo este fim-de-semana. 

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Na curva da estrada para Vila Boa de Ousilhão, em Vinhais, há uma placa a indicar o caminho para Podence. Sabemos, pelas imagens da TV e pela reportagem do PÚBLICO, que ali desaguaram foliões de todo o país, juntando-se ao já bem conhecido carnaval de caretos daquela aldeia de Macedo de Cavaleiros, alvo das maiores atenções este ano graças à sua elevação a Património Imaterial da Humanidade.

Mas quem, vindo de norte, seguiu aquela estrada da fama na passada terça-feira perdeu um outro Entrudo, chocalheiro e colorido também, escondido (mas pouco) no mapa e por detrás de máscaras de madeira esculpidas, quase todas, por Tozé, a assinatura artística de António José Fernandes do Vale, o líder da associação cultural local a quem Vila Boa deve muito do esforço de preservação desta tradição.

Caretos há muitos e bons, nos dois lados da fronteira, o que explica que Bragança dedique às máscaras e aos trajes destas festas de rapazes um ibérico museu. Mas, há uns anos, o fotógrafo Egídio Santos descobriu esta Vila [de gente] Boa e nunca mais lá deixou de ir, até lhes fazer um livro. Foi por ele, e pelo livro dele que o P3 desvendou um pouco aqui no PÚBLICO, que lá fomos também. E foi por causa do P3 – e das milhares de partilhas desse outro portefólio fotográfico – que esta terça-feira o Entrudo de Vila Boa atraiu visitantes inesperados, de Portugal e da Galiza, unidos pela língua, pelo ritmo dos tambores e das gaitas-de-fole e pela paixão pelas tradições populares carnavalescas.

Haveria pelo menos um fotógrafo por careto, ou até mais, mas todos tiveram lugar no almoço comunitário servido após o lançamento do livro Folia, e todos couberam nas ruas estreitas por onde se espalharam aquelas figuras coloridas, a que se somavam as marafonas, ou matrafonas, figuras de mulheres asneirentas, prontas a enfarinhar-nos as roupas, para que nos disfarçássemos também.

Bebeu-se e roubou-se a palha, saltou-se a fogueira que dela se fez, antes de se subir ao monte, junto à antiga escola primária, onde tudo começara, e onde outra fogueira, alimentada a lenha, desafiava ainda mais aqueles corpos ébrios. Por ali, tudo acabou com mais comida partilhada e um baile nocturno, mas nem por isso a folia se foi de Vinhais, agora que o calendário católico impõe a sobriedade da Quaresma.

Este sábado, os demónios saem à rua, na sede do concelho, que com a iniciativa anual Mil Diabos à Solta esticou para lá do Carnaval os motivos para uma visita ao município. Não fosse esta uma terra de tão boa carne (fumada ou não), e seria mais fácil não pecar. Mas pronto, ninguém é perfeito. Abel Coentrão