Uma linha de mobiliário urbano, feita de basalto, do designer francês Sam Baron que, em breve, deverá ser colocada em vários miradouros das ilhas dos Açores. Uma escova de dentes com o cabo feito de fibra de conteira, da designer Sónia Soeiro. Uma garrafeira de madeira criptoméria de Gonçalo Campos. Estes são alguns dos produtos que reinventam os recursos endógenos dos Açores e que estão patentes ao público até 15 de Março, na exposição Como Construir Uma Ilha – Uterus Azorica, no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, na ilha de São Miguel.
Os produtos desta mostra, com curadoria do arquitecto açoriano Bernardo Rodrigues, resultam do concurso Use&Abuse, criado no âmbito da Plataforma de Indústria Criativa dos Açores (PICA) do Governo Regional dos Açores. Grande parte destes produtos, como a escova de dentes e a garrafeira, deverá ser comercializado em breve, informa Francisco de Sousa Fernandes, director do Laboratório Regional de Engenharia Civil (LREC) e responsável pelo projecto, durante a visita guiada à exposição, a que se juntou o curador Bernardo Rodrigues.
“A ideia deste concurso foi reinventar e reimaginar, de forma sustentável, os materiais endógenos dos Açores, desde rochas, fibras, solos e madeiras”, precisamente as quatro categorias do Use&Abuse, descreve o director do LREC. “Os recursos dos Açores possuem um grande potencial e é, por isso, preciso dar-lhes o devido valor, gerando um valor acrescido na comercialização desses mesmos produtos fabricados”, defendia Sousa Fernandes, em Maio de 2019, meses antes da inauguração desta exposição. Então, o PÚBLICO acompanhou o desenvolvimento do protótipo de um dos bancos criados por Sam Baron, numa pedreira, na Ribeira Grande.
Além do desenvolvimento da linha urbana “Asentar”, feita de basalto, também assistimos ao corte das rochas enquanto Sam Baron escolhia a pedra de basalto mais indicada para dar vida aos vários bancos que desenhou. Este criador francês venceu na categoria das rochas e conta no currículo com trabalhos para marcas como a Vista Alegre, La Redoute, Airbnb e Hennessy. Baron inspirou-se nas construções arquitectónicas e históricas das ilhas, como os parapeitos das janelas, para criar estas peças de mobiliário urbano. “Quero prestar homenagem à cultura local”, dizia, então. E assim será. Francisco de Sousa Fernandes está a desenvolver contactos no sentido de colocar o mobiliário urbano nos miradouros das ilhas dos Açores.
Cartão-de-visita
As peças de Baron estão expostas no exterior do Centro de Artes Contemporâneas e são o cartão-de-visita da exposição que prossegue no interior deste edifício. Na sala dos solos, a dupla Caterina Plenzick e Katrin Krupka, que desenvolveu um mosaico com solos pozolânicos, foi vencedora numa das categorias do concurso. “[Trata-se de] um mosaico que é funcional para servir como revestimento de pavimentos ou de paredes”, elucida Sousa Fernandes. “Quisemos investigar o potencial das matérias-primas, combinando o seu desempenho técnico com valores estéticos ainda inexplorados, e enfatizar os seus valores técnicos e visuais em aplicações de design”, explica Caterina Plenzick.
Noutra sala há uma instalação artística com dezenas de conteiras, uma planta invasora no arquipélago. É aqui que está exposta a escova de dentes Fibra da designer Sónia Soeiro, com o cabo feito em material compósito de matriz biopolimérica, que é biodegradável, com reforço em fibra de conteira.
Uns passos à frente, outra sala mostra a garrafeira modular de madeira japónica criptoméria que pode assumir várias formas, do designer Gonçalo Campos. Está pronta a ser comercializada assim como o cabide de chão feito de basalto, de Filipa Silva, que ganhou uma menção honrosa. Este cabide chama-se “Picoruto”, numa associação entre as palavras “Pico”, uma homenagem à ilha, e “cocoruto”. Tem uma “forma piramidal inspirada na montanha vulcânica do Pico dos Açores, com linhas rectas e pequenos cortes laterais”, descreve o arquitecto Bernardo Rodrigues que viu o seu trabalho reconhecido quando projectou a Casa do Voo dos Pássaros e a Capela Luz Eterna, em São Miguel.
O PÚBLICO viajou a convite do Laboratório Regional de Engenharia Civil