Morreu o violetista francês Christophe Desjardins
Intérprete tocou várias vezes em Portugal, e gravou Emmanuel Nunes. Deveria regressar a 1 de Maio ao ciclo Música & Revolução, na Casa da Música.
O violetista francês Christophe Desjardins morreu esta quinta-feira, aos 57 anos, de cancro. A notícia foi avançada pelo site France Musique.
Desjardins tocou várias vezes em palcos portugueses nas duas últimas décadas, a solo, como membro do prestigiado Ensemble Intercontemporain fundado por Pierre Boulez e também como maestro.
Para o dia 1 de Maio, o violetista tinha agendado um novo regresso à Casa da Música, onde deveria fazer a estreia em Portugal, com o Remix Ensemble e a Orquestra Sinfónica do Porto, de Les Espaces Acoustiques, de Gérard Grisey, uma obra que é uma desafiadora exploração da percepção auditiva. O concerto está integrado no ciclo Música & Revolução.
Desjardins actuou também na Gulbenkian e no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, além de nas Jornadas Nova Música, em Aveiro. E tocou com formações como a Orquestra Metropolitana de Lisboa e a Orquestra Sinfónica Portuguesa.
Entre as dezenas de gravações que realizou, contam-se La main noire, de Emmanuel Nunes (AEON, 2007); Diadèmes, de Marc-André Dalbavie; Sequenza VI para alto, de Luciano Berio; e En Sourdine, de Matthias Pintshner. Na sua última gravação, a solo, associou um compositor do século XVII, Domenico Gabrielli, a outro do século XXI, Ivan Fedele.
Manifestando-se “consternado” com a notícia da morte prematura de Desjardins, “um amigo de longa data”, António Jorge Pacheco classifica-o como “um músico de excelência e um exemplo para uma nova geração de violetistas”. O director artístico da Casa da Música realça a ligação do instrumentista francês ao Ensemble Intercontemporain e a Pierre Boulez, antes de, nos últimos anos, ter “optado por uma carreira de solista colocando o seu talento e a sua generosidade ao serviço de inúmeros compositores de referência”. E cita igualmente a sua colaboração com Emmanuel Nunes, “que com ele criou uma relação de cumplicidade extremamente produtiva”.
“Todos recordamos com saudade a sua colaboração com o Remix Ensemble e era com grande expectativa que esperávamos pelo concerto do dia 1 de Maio, em que o Christoph iria tocar o prólogo de Les Espaces Acoustiques de Gérard Grisey”, acrescenta António Jorge Pacheco, avançando que a Casa da Música irá dedicar esse concerto à sua memória.
Christophe Desjardins nasceu em Caen no dia 24 de Abril de 1962. Começou a estudar piano aos seis anos, mas aos dez decidiu trocar de instrumento e optar pela viola de arco. Formou-se em 1983 no Conservatório de Música de Paris, tendo depois rumado ao Conservatório de Berlim, onde foi aluno de Bruno Giuranna. Em 1990, torna-se membro do Ensemble Intercontemporain, com o qual interpreta os nomes mais relevantes da música contemporânea. Luciano Berio, Jonathan Harvey, Marco Stroppa, George Benjamin e o seu compatriota Philippe Manoury – que é este ano o Compositor em Residência na Casa da Música – são outros nomes a quem emprestou a sua arte de intérprete.
Paralelamente, tocava também os clássicos, de Bach e Mozart e a Bartók. “Para mim, um músico moderno é um músico que toca ‘também’ a música do seu tempo, mas não só. Hoje em dia há cada vez mais a tendência de compartimentar os reportórios, de colocar etiquetas definitivas”, disse o instrumentista em entrevista citada pela France Musique.
Essa atenção aos vários tempos e às várias dimensões da música e da arte levou-o a criar espectáculos multimédia, como Il Était une Fois l’Alto, em que à música associava também a poesia, a dança e o vídeo.