Béa Johnson foi a mulher que mudou a vida de Eunice Maia e a inspirou a alinhar no Desafio Zero. A sua missão para a redução de desperdício, dentro e fora de casa, foi agora publicada em livro, para ajudar todos os que queiram também iniciar esta caminhada. Desafio Zero, editado pela Manuscrito, com prefácio de Béa Johnson e Ana Pêgo, está à venda a partir desta quarta-feira, 5 de Fevereiro.
Em 2015, a poucos meses de abrir a mercearia Maria Granel (a primeira loja biológica a granel que surgiu em Portugal), Eunice Maia viu uma reportagem com a activista Béa Johnson, que mudou o foco do projecto, inicialmente apenas uma homenagem às mercearias do antigamente. Foi graças à autora francesa que a Maria Granel adoptou o sistema Byoc ("traga a sua própria embalagem").
Lentamente a missão da Maria Granel se estendeu a tudo na vida de Eunice Maia e do marido Eduardo Melo. O “eco revolução” começou na cozinha e na despensa do casal, “a divisão que gerava mais lixo”, sublinha a autora.
O primeiro passo foi abastecer a despensa com produtos a granel e subscrever um cabaz de legumes e frutas biológicos. A vantagem de comprar a granel, reforça Eunice Maia, é poder levar as suas próprias embalagens, comprando apenas o que precisa e, como resultado, reduzindo o desperdício.
Uma auditoria ao caixote do lixo
Aos leitores do Desafio Zero, Eunice Maia aconselha começar a revolução com uma “auditoria” ao caixote do lixo. “A palavra lixo diz muito da relação que temos com os resíduos… Tudo está feito para que pensemos que são resíduos, quando são recursos”, alerta a autora, que é também professora de Português e Literatura.
O problema não é só culpa nossa, mas também do sistema que “está conseguido para que pensemos que descartamos e o problema já não é nosso”, lamenta Eunice Maia. A mentalidade tem de ser invertida: o lixo continua a ser da responsabilidade de quem o descartou.
Vasculhar pelo lixo é um momento importante, não só para perceber onde se pode reduzir, mas também para ter a “percepção real daquilo que estamos a consumir e a descartar”, sublinha a autora do Desafio Zero. “Encarar o lixo é encararmo-nos a nós próprios”, observa Eunice Maia.
Feita a auditoria ao caixote do lixo, é natural que encontre sobretudo resíduos orgânicos, como cascas de legumes e frutas ou restos de comida. Quando vão parar ao lixo indiferenciado, estes resíduos seguem para o aterro sanitário. Eunice Maia sugere que é possível “transformar estes resíduos orgânicos novamente em vida”.
Como? Através da compostagem. No Desafio Zero, Eunice Maia dá várias dicas de como começar a compostar, uma acção que é “possível fazer mesmo em apartamentos”. Para facilitar sugere a utilização da aplicação Share Waste, em que é possível doar os resíduos orgânicos.
A “eco ansiedade”
Com a consciência dos efeitos nocivos do plástico, chegou outro sentimento até então desconhecido: a “eco ansiedade.” “Quando despertamos a consciência já nada nos pára. Lembro-me de ver só plástico à minha volta e de me incomodar bastante”, recorda a professora.
Nas 296 páginas do Desafio Zero, a autora relata algumas das frustrações que sentiu no caminho para uma vida mais sustentável, que reconhece serem naturais. “Temos de aceitar que já estamos a fazer aquilo que conseguimos”, aconselha Maia.
Há uma frase de Anne-Maria Bonneau, uma chef desperdício zero, que Eunice Maia quer que chegue ao maior número de pessoas possível e que para isso deixou registada na epígrafe do seu primeiro livro: “Não precisamos de uma mão cheia de pessoas a fazer desperdício zero na perfeição. Precisamos de milhões que o façam imperfeitamente.”
Com dicas práticas no final de cada capítulo, o Desafio Zero quer a passar a mensagem que o desperdício zero não precisa ser “radical e fundamentalista”. “Estamos muito habituados a ouvir falar sobre o problema, muitas vezes em tom catastrófico, mas falta mostrar às pessoas que as soluções existem”, defende Eunice Maia. Para procurar a solução, este guia prático pode ser o primeiro passo.
Texto editado por Bárbara Wong