Dinamarca
Uma viagem ao interior secreto de um clube de swing
"Se és mulher, este é o derradeiro espaço seguro para a prática de sexo", afirma a sueca Kajsa Gullberg, que durante nove meses fotografou o interior de um clube de swing em Copenhaga. O resultado está no livro The House of Mirrors.
Era Outono de 2017. Pela primeira vez, sozinha e nervosa, Kajsa Gullberg saiu de casa em direcção ao clube de swing mais próximo, em Copenhaga, na Dinamarca. Não contou a ninguém onde ia. Sentia vergonha deste novo interesse, confessa. Porquê vergonha? O que é um clube de swing? É um estabelecimento comercial onde pode existir interacção sexual consentida entre quem o frequenta, dentro das instalações organizadas para o efeito. Por fora, o edifício não se denunciava. Lá dentro, a atmosfera era escura e a estrutura era labiríntica. Kajsa pagou junto ao balcão de entrada e deixou as suas roupas num vestiário contíguo. "A primeira sala onde entras é o bar." Uma mulher serve a Kajsa uma bebida. "São eles que decidem quanto é que podes beber. E não é permitido entrar ou ficar embriagado."
A casa tem dois andares. No primeiro fica o bar, "o coração do clube", dois quartos privados pequenos e um aberto. Há também um de maior dimensão, aberto, onde apenas casais ("e um casal pode significar mais de duas pessoas") podem entrar e outro quarto privado com janelas e glory holes. No andar superior, "há um grande open space para actividades relacionadas com BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo), um quarto escuro, três pequenos quartos privados e uma sala de cinema que passa filmes pornográficos." No interior, não é permitido tocar em ninguém sem consentimento. O primeiro contacto é feito através do olhar. "Quem não desejar contacto, olha noutra direcção", explica Kajsa. No bar, é permitido conversar, há muito flirt, garante.
"No clube, há quem aprecie ter sexo nas áreas abertas, públicas, enquanto outros observam. Por vezes algumas pessoas são convidadas a juntar-se. Quem não é convidado tem de estar a uma distância aceitável." Há quem prefira os espaços privados. Aí, tudo é possível, desde que haja consentimento. As regras de conduta são muito claras e qualquer violação dá direito a penalização. E é por esse motivo que a fotógrafa acredita ter encontrado no clube de swing "o derradeiro local seguro para a prática de sexo", enquanto mulher. É uma afirmação ousada, surpreendente. Mas Kajsa justifica: "É seguro porque é um negócio". "Se as mulheres tiverem más experiências não voltam e, assim, não há clube. Existem regras de conduta e consequências para quem transgride — ao contrário do que acontece em sociedade. E num clube não há espaço para envergonhar quem revela uma sexualidade exuberante. Tudo é aceite, sem consequências. Todos os tipos de corpo, de todas as idades, têm um lugar num clube de swing."
A fotógrafa encontrou algumas mulheres sozinhas, como ela. "Mas agiam de forma totalmente diferente de mim, com alegria e ganância de prazer. Foi muito alegre e festivo observar o seu comportamento. Foram estas mulheres que fotografei. Há muitas pessoas que são exibicionistas, então a maioria ficava contente quando eu pedia para fotografar. Gostavam muito." Era Kajsa quem, a certa altura, dirigia os retratados, pedindo-lhes poses e situações específicas. E não é por isso que as suas imagens são menos autênticas. "As pessoas estavam igualmente excitadas, por vezes ainda mais do que seria expectável porque era eu quem dirigia e documentava." Kajsa baseia-se na sua própria experiência para recriar situações que viveu ou testemunhou diante da sua câmara.
Não foi a ambição de realizar um projecto fotográfico que levou a sueca até ao clube. Foi o desafio de expandir os próprios horizontes e de explorar a sua sexualidade, confessa. É por isso que o fotolivro recentemente lançado se intitula The House of Mirrors (A Casa dos Espelhos, em tradução livre). "Não é permitido, em nenhuma situação, levar uma câmara para um clube de swing. Em todos os locais onde há prática sexual estão banidos telefones e câmaras." Kajsa conseguiu realizar as imagens porque foi cliente assídua do clube durante mais de seis meses. "As pessoas foram-me conhecendo, fui ganhando a sua confiança." Nove meses depois de o ter iniciado, estava terminado o projecto que a Dewi Lewis publicou.
"Descobri muito sobre mim [no clube de swing]", confessa. "Muito, muito, muito", escreve. "Sou feminista de segunda geração. É mais do que claro para mim que o meu corpo e o meu desejo me pertencem a mim, somente. Mas, ainda assim, vivia em confronto com a necessidade de agradar aos homens, como se lhes devesse alguma coisa. E senti-me, muitas vezes, uma provocadora enquanto andava pelo clube em roupa interior sem dizer que sim a nenhum deles. A mulher do bar dizia-me 'Não estás aqui por caridade. Este é o único sítio onde tu consegues ter exactamente aquilo que queres, basta dizer e acontece'."
Para mulheres que têm medo ou sentem reservas em visitar um clube de swing, Kajsa recomenda: "Primeiro, pergunta-te por que queres ou não queres ir, tem uma conversa contigo, com o teu parceiro ou parceira, com os teus amigos." "Faz a tua pesquisa sobre a atmosfera do local. Vai ao site, entende o que comunicam. Têm regras explícitas? Liga, fala com eles, faz perguntas sobre as regras, sobre o ambiente. Depois, se decidires, vai lá sozinha (se fores cool como eu) ou acompanhada, de preferência de alguém com quem te sintas segura", aconselha. "E depois explora ao teu ritmo. Ao teu ritmo! E arrepende-te do que não fizeste — e não do que fizeste."