Pet
Eles são donos dos mais invulgares animais de estimação
Há um século, poucos conseguiriam imaginar um porco ou um tubarão no interior de uma habitação, convivendo de perto com as pessoas, assumindo o papel de animal de estimação. Ou uma raposa, ou um orangotango. A relação entre humanos e animais era, então, sobretudo de natureza utilitária. Mas o futuro pode ser imprevisível, surpreendente. Por isso, à medida que o ser humano foi abandonando o campo em direcção à cidade, a relação entre eles foi mudando, evoluindo. “Quando um homem abandona o meio rural, começa a utilizar os animais de estimação como compensação pela ligação perdida com a natureza”, explica, sucintamente, o fotógrafo ucraniano Oleksandr Rupeta, que se debruçou sobre o tema dos animais de estimação na Ucrânia durante vários anos.
Quando os animais se mudam para dentro de casas e apartamentos, o seu comportamento altera-se – e o mesmo sucede com o comportamento humano. Há quem afirme, até, que algum tipo de processo simbiótico se desencadeia e que animais passam a assemelhar-se aos seus donos e vice-versa, mas sobre isso não há qualquer evidência científica de suporte. Certo é que ambos se adaptam, em contexto doméstico, à presença e necessidades do outro, formando uma relação complexa, profunda e (ainda) algo misteriosa. “Existe um ecossistema dentro de cada apartamento”, resume Oleksandr, em entrevista escrita dirigida ao P3.
Durante o seu périplo por todo o território ucraniano, Oleksandr fotografou animais invulgares na companhia dos seus donos. E conheceu casos surpreendentes: Michael adoptou um orangotango e chamou-lhe Joseph. O primata viveu em sua casa durante dois anos, antes de ser transferido para um jardim zoológico. As visitas são regulares.
Tatyana vive com 93 gatos e sete cães em casa, no centro da cidade de Kyiv. Alexander é dono de uma leoa chamada Kate. Vladimir garante que a sua porquinha de estimação, Nyusha, é mais inteligente do que qualquer cão. “Na Ucrânia, à semelhança do que se passa em todo o território ex-soviético, existe uma tendência para a adopção de animais exóticos. A abertura das fronteiras tornou mais fácil a sua aquisição, de tal maneira que ser dono de um animal exótico deixou de ser um privilégio de uma minoria.” O fotógrafo revela preocupação sobre como são mantidos “saudáveis” em cativeiro estes animais. “Muitos donos não têm conhecimentos acerca das espécies, sobre como cuidar dos animais.”
Para a série Someone In Your Corner, Rupeta excluiu os donos de animais de circo e zoos. “Na maior parte dos casos, conheci donos que salvaram os animais de morte certa e que nutriam por eles amor verdadeiro.” Há entre os retratados quem trabalhe em clínicas veterinárias ou lojas de animais, há quem seja voluntário em abrigos, santuários. “Em todas as imagens vemos uma relação humano-animal muito especial”, garante. O que mais interessa a Rupeta, que é dono de uma cadela pastor alemão, é essa ligação. “Interesso-me por antropologia. A relação homem-animal é das que mais me interessa investigar. E sinto que a exploração ou conhecimento sobre este laço revela que o ser humano está a amadurecer e a ganhar consciência de si próprio enquanto espécie. Sinto muita curiosidade sobre este tema sob a perspectiva evolucionista – ou, mais precisamente, co-evolucionista.”