Que nos falta para eliminar o VIH?

Lisboa quer eliminar o VIH e, antes disso, acabar com o estigma e a discriminação.

Ao longo dos últimos quase 40 anos houve uma enorme evolução na área do VIH. Atualmente sabemos como se transmite o vírus, melhorou-se o acesso ao teste e a eficácia do tratamento e surgiram novas estratégias de prevenção. Estes avanços levam-nos, hoje, a poder discutir cenários de eliminação da infeção. Por isso, as Nações Unidas, através da ONUSIDA e da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, definiram, como objetivo a alcançar no prazo de uma década, que a infeção VIH e sida deixe de ser um problema de saúde pública. No entanto, persistem vários desafios que podem comprometer o cumprimento desta meta. Portugal, em concreto, não só é um dos países europeus com maior taxa de novos casos diagnosticados, como a maioria dos diagnósticos são feitos muito tardiamente (55,8% dos casos).

É nas cidades que a infeção pelo VIH tem a sua expressão mais importante. Por esse motivo foi lançada a iniciativa “Cidades na via rápida para acabar com a epidemia VIH” – uma parceria mundial de cidades em articulação com a Associação Internacional de Prestadores de Cuidados no Âmbito da Sida (IAPAC), a ONUSIDA, o Programa das Nações Unidas para a Habitação e Desenvolvimento Urbano Sustentável (UN-HABITAT).  A iniciativa foi lançada, no Dia Mundial da Sida (1 de dezembro) em 2014, com 26 cidades a assinarem o compromisso que ficaria conhecido como a Declaração de Paris. Hoje são mais de 300 as cidades signatárias em todo o mundo. Lisboa, Porto e Cascais, e, mais tarde, Almada, Amadora, Loures, Odivelas, Oeiras, Sintra e Portimão assinaram a Declaração de Paris. Lisboa, como as restantes cidades, comprometeu-se a reforçar o seu envolvimento nas respostas ao VIH. Este compromisso não é apenas simbólico, mas extremamente necessário, pois a Área Metropolitana de Lisboa tem o maior número de infeções no país, representando 47,2% dos novos casos diagnosticados em 2018.

Sabemos que existem formas eficazes de prevenção da infeção, como o preservativo e a profilaxia pré e pós-exposição. Sabemos como melhorar o acesso ao teste. Sabemos também que as pessoas que estão em tratamento eficaz para a infeção não transmitem o VIH nas relações sexuais. Se eliminarmos o estigma e a discriminação associados à infeção VIH e sida, estaremos a aproximar as pessoas da prevenção, do diagnóstico e do tratamento e a contribuir para eliminar a infeção VIH mais rapidamente, mas este é um dos pontos chave em que a evolução tem sido mais lenta.

Para as pessoas que vivem com VIH continuam a existir dificuldades para falar livremente sobre a infeção nos locais de trabalho, nas relações pessoais, ou para ser recebido com normalidade nos cuidados de saúde. A discriminação leva à invisibilidade, o que reforça o estigma, num círculo vicioso difícil de ultrapassar. Onde estão as 7500 pessoas que se estima vivem com VIH na cidade? Todas as pessoas têm o direito a não carregar consigo o peso da invisibilidade. Para isso precisamos de mobilização individual, social e institucional.

Por isso, a resposta ao estigma e à discriminação é um dos temas que iremos trabalhar ao longo deste ano no âmbito de Lisboa Sem Sida (lisboa.pt/lisboasemsida) e que estará também em destaque na conferência internacional que juntará as cidades mundiais na via rápida para acabar com a epidemia VIH, em Lisboa, de 7 a 10 de setembro deste ano. Esta será uma oportunidade para trocarmos conhecimentos e boas práticas com representantes de cidades de todo o mundo, mostrando também o que Lisboa e outras cidades Portuguesas de melhor têm feito.

Para parar o VIH, vamos parar o estigma e a discriminação!

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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