Afeganistão
As próteses improvisadas dos amputados de guerra
O fotógrafo e videógrafo irlandês Ross McDonnell debruçou-se sobre o tema da guerra sem apontar a sua objectiva aos soldados, às vítimas, às armas e artilharia, aos destroços. Fê-lo de forma tácita, subtil, ao tornar protagonistas as próteses que substituíram as pernas que a guerra arrancou às suas vítimas. Apesar de terem, implicitamente, um foco na perda de um membro, as imagens revelam o engenho de quem, sem outra opção, foi forçado a encontrar em si a força e a engenho necessários para continuar a andar e a viver. As imagens da série Limbs, originalmente publicada no The New York Times, escondem para revelar.
Foi no Comité Internacional da Cruz Vermelha de Jalalabad, no Afeganistão, em 2012, que o fotógrafo encontrou estas próteses. Elas estão expostas nas paredes interiores do edifício desde 1995 e são relíquias do tempo da guerra civil (1992-1996), em que um afegão tinha de viajar até ao Paquistão para obter cuidados médicos especializados. Hoje, a realidade é diferente. Todos aqueles que sofrem amputações e se dirigem ao Centro da Cruz Vermelha têm direito a uma nova prótese. Moderna. Adequada. Gratuita.
Estas, as que vemos nas imagens, foram feitas a partir de peças de metal descartado, tecidos e madeiras – materiais claramente reutilizados — e revelam os traços de quem as construiu e de quem as usou, sobretudo vítimas de minas terrestres, ataques aéreos, bombas, munições de fragmentação, mas também de doenças como a diabetes. Ao observá-las, torna-se quase palpável a sensação do contacto da pele com a matéria fria, a luta diária de quem teve de recorrer a estes engenhos para se locomover, recordando repetidamente o dia que para sempre mudou as suas vidas. As fotografias de McDonnel escondem tudo isso, deixando visível apenas as marcas de uso e das reparações sucessivas sofridas por cada prótese, as que tornaram possível a extensão da vida útil de cada uma. O irlandês, assíduo em cenários de guerra, publicou no P3 o projecto Static, sobre os (muito) jovens soldados na Ucrânia. Vale a pena rever.