As armas falarão mais alto e ditarão a lei?
Nas relações entre Estados a arrogância e a fanfarronice é má conselheira. Vale sempre a pena ter presente que o Iraque tem hoje esta influência iraniana graças a George W. Bush.
Tornou-se um lugar-comum afirmar que o mundo está a ficar um local perigoso para se viver.
É indesmentível - a ordem que saiu da segunda guerra mundial está a esvair-se e a ser substituída por uma nova ordem ditada pelo desequilíbrio da força militar. Haverá força para contrariar esta tendência? Que reequilíbrios se poderão vir a estabelecer? Os líderes que pugnam por uma nova ordem mundial são exatamente os mesmos que, no plano interno dos seus países, prosseguem políticas de apoio ao armamento dos cidadãos.
A configuração deste universo interno passa, no plano internacional, pela ação militar e o fim do apego à filosofia do atual direito internacional que proíbe a guerra.
Baseado numa superioridade militar/tecnológica, Trump vai-se apresentando como sherif do mundo e ostenta os diversos troféus que vai eliminando.
O assassinato do general iraniano constitui uma ação de guerra contra outro país, com a agravante de ter sido cometido noutro país… Há quem entenda que aquela ação serviria para desviar a atenção dos cidadãos dos EUA do impeachement.
Portugal ficou em silêncio face ao assassinato do general iraniano, mas foi rápido a condenar o ataque militar iraniano aos EUA, igualmente no Iraque e também ele um ato de guerra no território de outro país. Pesos e medidas que não abonam a credibilidade internacional. São precisos Estados coerentes na defesa da paz no meio deste mundo caótico.
Apesar de toda a retórica Trump parece ter abandonado a cadeia das respostas e contra respostas, dado a perigosidade da prossecução desse caminho. Na madrugada de quarta-feira o MNE iraniano já tinha deixado claro que aquela era a resposta, deixando antever o fim da “vingança”, esperando-se que tudo volte a uma certa normalidade em que as conversações substituam o ribombar das armas.
Os tempos, em certa medida, assemelham-se ao período que antecedeu a segunda guerra mundial em que todos se calavam para não enfurecer Hitler…
No Médio Oriente sauditas, iranianos, turcos, russos, e sobretudo os norte-americanos armam os grupos que fazem o seu jogo. Não são aceitáveis teorias que há terroristas melhores que outros. O terrorismo deve ser banido, seja ele qual for, incluindo o de Israel e da Arábia Saudita. Não eram iranianos os que atacaram Nova Iorque, muitos pertenciam à Arábia Saudita, país da origem de Ossama Bin Laden.
Qassem Soleimani não era nenhum anjinho, era o homem da política iraniana para a região da qual os EUA distam a mais de sete mil quilómetros, e apesar disso cercam toda a área por todos os lados acompanhados por tropas da NATO, incluindo portuguesas.
Trump chegou a pontos de ameaçar a destruição de centros culturais e civilizacionais que são pertença da Humanidade. Trump já se apropriou da linguagem do Daesh e das suas mensagens de destruição dos símbolos civilizacionais, arrependendo-se mais tarde, dado a lei internacional o proibir, algo que não lhe deve ter passado pela cabeça, mesmo sendo o Presidente dos EUA.
Nas relações entre Estados a arrogância e a fanfarronice é má conselheira. Vale sempre a pena ter presente que o Iraque tem hoje esta influência iraniana graças a George W. Bush.
Ser o país mais poderoso nos tempos atuais não chega para ser respeitado e admirado. Nem chega para impor ao mundo a sua política.
Por instantes o Presidente dos EUA, embora arengando ameaças, parece ter abandonado para já a sua terminologia catastrófica e belicista acerca do que o Exército dos EUA é capaz de destruir.
Resta apesar de tudo o que não pode nunca morrer - a esperança da paz. Só a melhor consciência dos povos e de cada cidadão aliada a todos os Estados vinculados aos princípios da paz mundial poderá impedir o rumo para a barbárie. Que cada um pergunte a si e a todos se é inevitável o precipício.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico