Por uma nova travessia do Tejo
De todos os estudos desenvolvidos, a solução que reúne maior apoio por parte das populações e que também reúne maior consenso entre os especialistas, é a solução da construção de um túnel imerso, ligando a A33 à CRIL, no corredor Algés - Trafaria.
Os factos são conhecidos. Diariamente atravessam, em média, a Ponte 25 de Abril, cerca de 160 mil viaturas, isto é, o dobro da sua capacidade estimada, que se cifra em 80 mil veículos/dia. Sabe-se, também, que 80% deste tráfego é gerado em três concelhos: Almada, Seixal e Sesimbra. Assim sendo, quais são as alternativas à travessia rodoviária da Ponte 25 de Abril para os habitantes destes três concelhos da margem sul do Tejo, com uma população total de aproximadamente 180 mil pessoas?
Será que a segunda travessia do Tejo, a Ponte Vasco da Gama, constitui para estas populações uma alternativa? A resposta é, obviamente, não. A Ponte Vasco da Gama fica a uma distância de aproximadamente 50 quilómetros destes concelhos e desemboca na zona oriental de Lisboa, não constituindo, por isso, uma alternativa aceitável para a mobilidade destas populações, nas suas deslocações pendulares dentro da área metropolitana de Lisboa. As alternativas efetivamente disponíveis são, assim, a travessia ferroviária e a travessia fluvial. A travessia ferroviária da Ponte 25 de Abril é assegurada pela Fertagus, que transporta anualmente 19 milhões de passageiros, retirando muitos veículos do tabuleiro da ponte. Contudo, a opção ferroviária encontra-se saturada, não se afigurando possível aumentar significativamente a oferta existente. O mesmo problema apresenta a opção fluvial, que sofre igualmente de saturação e que continua a ser muito deficitária na sua operação.
Não obstante, tem-se vindo a assistir a um crescimento da procura, quer da opção ferroviária quer da opção fluvial, induzida pela redução dos preços dos passes sociais, que, se por um lado, têm um inquestionável valor social, permitindo melhorar as alternativas de mobilidade e aumentar o rendimento disponível das famílias, por outro lado, colocam uma pressão dificilmente sustentável nas duas opções alternativas à travessia rodoviária. Tendo em conta as manifestas carências que ainda persistem na rede de transportes públicos na área metropolitana de Lisboa, o meio rodoviário continua a ser a única opção viável para muitos cidadãos e empresas. Os estudos de tráfego realizados apontam para a existência, entre as duas margens, de uma procura de e para os concelhos de Oeiras, Sintra e Cascais, na ordem dos 40% e para os concelhos a norte da segunda circular, na ordem dos 20%. Para quem se desloca entre a margem sul e outros concelhos da área metropolitana, que não Lisboa, a opção rodoviária é a única alternativa efetivamente viável.
É, assim, necessário encontrar urgentemente novas soluções. De todos os estudos desenvolvidos para encontrar alternativas de mobilidade entre as duas margens do Tejo, a solução que reúne maior apoio por parte das populações diretamente afetadas pelos problemas de congestionamento da Ponte 25 de Abril, e que também reúne maior consenso entre os especialistas, é a solução da construção de um túnel imerso, ligando a A33 à CRIL, no corredor Algés - Trafaria.
Um estudo de viabilidade, desenvolvido por um grupo de reputados especialistas, a pedido da Lusoponte e por determinação do Governo, apontou esta solução como a mais exequível e com maiores vantagens, quer em termos de custos, quer no que concerne a prazos e condições de execução. O referido estudo aponta, ainda, para a opção de construção de uma solução de túnel rodo-ferroviário, em que o transporte individual coexiste com o transporte público, através da instalação de uma terceira célula que suportaria um metro ligeiro, fazendo a ligação entre o MST, na Universidade do Monte da Caparica e a linha de Cascais. Os custos estimados para este projeto seriam na ordem dos 700/800 milhões de euros. De acordo com o mesmo estudo, a execução desta infraestrutura, permitiria retirar à Ponte 25 de Abril um tráfego de cerca 60 mil veículos/dia.
Tendo em conta estes factos, um grupo de cidadãos, onde se incluem autarcas e especialistas em mobilidade, seriamente preocupados com a situação de forte congestionamento do tráfego na Ponte 25 de Abril, com impactos negativos na qualidade de vida das populações dos municípios da região ocidental da margem sul do Tejo e conscientes de que é preciso deixar um legado de bem-estar e de desenvolvimento sustentável às gerações vindouras, decidiram lançar a petição pública “Por uma nova travessia, em túnel imerso, entre a Trafaria e Algés”. Esta petição, que conta já com cerca de 2500 subscritores, tem como objetivo lançar o debate público e pugnar pela realização dos estudos necessários à viabilização desta obra, inscrevendo-a como uma obra prioritária no âmbito do Plano Nacional de Investimentos 2030 e integrando-a no programa europeu Portugal 2030.
Porquanto, não é mais aceitável que centenas de milhares de portugueses, continuem diariamente a sofrer com os fortes constrangimentos provocados pelo estado caótico do tráfego na Ponte 25 de Abril e nos seus acessos, sendo obrigadas a enfrentar filas intermináveis e horas infindas de espera, com enorme impacto negativo na sua vida pessoal e familiar, representando perdas irreparáveis em termos de qualidade de vida, de saúde e financeiros.
Não é mais tolerável que os municípios da região ocidental da margem sul, continuem a ser vítimas da falta de investimento em infraestruturas, quando há soluções técnica e financeiramente viáveis e sustentáveis. Uma nova travessia no Tejo, em túnel imerso, entre Algés e a Trafaria, é a solução que se impõe para que este admirável território, com excecionais condições naturais, conquiste mais investimento reprodutivo e desenvolvimento sustentável, garantindo bem-estar e felicidades para as suas populações e para aqueles que nos visitam.
Miguel Lourenço, subscritor da petição pública “Por uma nova travessia no Tejo”.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico