Fotografia
Arquitectura: uma viagem brutalista pelo Porto
Betão armado. Muito betão armado. Grandes superfícies envidraçadas, estruturas metálicas despidas de ornamento. Lógica funcionalista. Há muitos elementos que ligam os edifícios do Porto à corrente brutalista e existe um livro, editado por uma livraria portuense, que quer colocá-los em evidência. A Piscina das Marés, de Álvaro Siza Vieira, o Silo Auto, de Alberto José Pessoa e João Abel Manta, e o Edifício Transparente, de Manuel de Solà-Morales e Carlos Prata, são talvez as mais conhecidas das 20 obras – localizadas no Porto, Vila Nova de Gaia e Matosinhos –, reunidas no livro Porto Brutalista, publicado pela Circo de Ideias, com edição de Pedro Baía e Magda Seifert. Com o livro, os autores propuseram-se a desenvolver um trabalho de investigação e de reflexão crítica em torno da linguagem brutalista, tendo como o Porto o seu tubo de ensaio.
O livro resulta de esforços de vários arquitectos e académicos. "Álvaro Siza conversou sobre o tema do Brutalismo e sobre algumas questões que se levantaram no decorrer do projecto", pode ler-se no evento do Facebook relativo à apresentação do livro. "Ben Highmore visitou algumas das obras seleccionadas no Porto e escreveu um ensaio a partir de uma perspectiva cultural." Tiago Lopes Dias, Alexandra Areia e Pedro Treno complementaram com ensaios críticos.
Sobre o Silo Auto, o arquitecto Pedro Treno lembra que “a monumentalidade do projecto encontra um par do outro lado do Atlântico, o Temple Street Parking Garage, projecto de Paul Rudolph (1963)". O arquitecto do edifício norte-americano afirmou, no passado, que os edifícios de estacionamento “são apenas estruturas de edifícios de escritórios com o vidro deixado de parte” para que “não haja dúvida de que é mesmo uma garagem de estacionamento”. O portuense Silo Auto deixa bem clara a sua natureza, à luz evidência da falta de janelas.
A Piscina das Marés, do arquitecto Álvaro Siza Vieira, é uma estrutura em que reina o "betão moldado com madeira", de acordo com Ben Highmore, professor na Universidade de Sussex que teve oportunidade de visitar todas as 20 obras que são apresentadas em Porto Brutalista. O britânico estabelece entre essa estrutura e outros edifícios um paralelo. "No Porto, o betão moldado com madeira é essencial à experiência da Piscina de Marés (1960-66), da Capela de São José em Quebrantões (2002-05) e da Casa do Conto (2009-11)."
Pedro Baía e Magda Seifert problematizaram "a própria noção de Brutalismo enquanto denominação estilística, que vem sendo apropriada ao longo do tempo por várias gerações e geografias", antes de chegar ao conjunto de obras que os fotógrafos Francisco Ascensão e Luca Bosco se dispuseram a fotografar e que apresentam, nesta fotogaleria, ao P3. As imagens do livro estão em exposição, presentemente, na livraria Circo de Ideias, no Bairro da Bouça, no Porto.