Barreiras físicas e transportes públicos: como os centros históricos condicionam os idosos

Estudo MOBI-AGE analisou casos de Porto e Coimbra para identificar o que mais limita os movimentos de quem tem mobilidade reduzida.

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Andre Rodrigues

Uma rua mais inclinada pode ser um obstáculo intransponível para quem tenha dificuldades de mobilidade. Isto acaba por condicionar a rotina diária dos idosos que vivem em centros históricos, mas há mais barreiras físicas e vão do tipo de pavimento ao serviço de transportes públicos. Estas são algumas das conclusões do MOBI-AGE, um estudo levado a cabo por investigadores das Universidades de Coimbra (UC) e do Porto (UP) para identificar e classificar barreiras que limitam a mobilidade dos idosos em espaço urbano, apresentado nesta terça-feira, no Ateneu de Coimbra. 

Ao contrário do que é descrito em muita da literatura científica que aborda o tema, “as pessoas querem movimentar-se mas não têm as melhores condições para isso”, começa por explicar ao PÚBLICO a coordenadora do projecto, Anabela Ribeiro, à margem da sessão de apresentação das conclusões. As pessoas querem fazer “pequenas deslocações para satisfazer necessidades diárias, como ir ao mercado ou à farmácia” de forma autónoma, mas estão condicionadas. 

As cerca de 20 entrevistas foram recolhidas em Coimbra e no Porto, junto de habitantes idosos do centro histórico, mas também de turistas da mesma faixa etária. As barreiras físicas e os transportes públicos foram as questões mais levantadas, diz Anabela Ribeiro, sublinhando que, entre as duas cidades, não há diferenças significativas nos pontos mencionados. No entanto, no caso de Coimbra, a circulação de carros nas estreitas ruas do centro histórico faz com que os habitantes mais velhos da zona tenham algum receio, indica.

O estudo é financiado pelo programa MIT Portugal e Fundação para a Ciência e a Tecnologia e conta com o apoio de investigadores do MIT Agelab, de Boston, nos Estados Unidos, das autarquias do Porto e Coimbra, bem como do Ateneu e Centro Paroquial da Sé Velha (Coimbra) e Centro Nossa Senhora da Vitória (Porto).

Se para o declive de uma rua não há grande solução, há medidas que podem auxiliar a deslocação nessas vias, como a instalação de um “corrimão, quer seja a meio da rua ou na parede”. E isso “faz toda a diferença”, nota a investigadora que é também docente no Departamento de Engenharia Civil da UC. Em relação ao pavimento, é possível alterar as “soluções arquitectónicas” que acabam por não ser as mais indicadas, afirma. 

Relativamente a transportes, “as soluções como o autocarro nos centros históricos são ideais”. Mas também aí há um caminho a percorrer: o autocarro só arrancar depois de os idosos estarem sentados, a cedência de lugar (que ainda não é regra) ou o respeito pelos lugares reservados a pessoas com dificuldades de mobilidade são alguns dos exemplos. “São pequenos pormenores que fazem toda a diferença”, refere.

“Outro aspecto fundamental é a ligação à saúde: se as pessoas tiverem condições para circular em segurança, tornam-se mais activas até mais tarde”. Um cenário positivo, mesmo do ponto de vista estritamente economicista, aponta. 

Numa fase seguinte, a equipa do MOBI-AGE vai montar um sistema de apoio que pode ser utilizado por câmaras municipais, explica Anabela Ribeiro. Ou seja, com base no estudo que foi feito, será desenvolvida uma ferramenta que analisa diversos indicadores e pode ser aplicar a qualquer zona da cidade. Um dos resultados pode ser um mapa de calor que identifica as zonas com maior ou menor grau de dificuldade da cidade, ilustra. 

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