E se os ciclistas pudessem identificar os caminhos menos expostos à poluição?

Investigadores da Universidade de Coimbra criaram uma metodologia para comparação de rotas alternativas para ciclistas, considerando “não apenas a distância e o tempo de viagem, mas também o esforço e a exposição a poluentes resultantes das emissões de tráfego”.

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Investigadores das faculdades de Ciências e Tecnologia e de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra desenvolveram uma metodologia que identifica os trajectos urbanos onde os ciclistas estão menos expostos a poluentes.

O novo método pretende contribuir para a “promoção de modos de transporte activos”, como andar a pé ou de bicicleta nas cidades, identificando “os trajectos mais adequados”, designadamente do ponto de vista do esforço, da distância e do tempo e da “exposição a poluentes”, refere a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), numa nota enviada à agência Lusa.

Publicado na revista internacional Transportation Research D, o estudo foi realizado no âmbito do projecto SoMoMUT (Soft Modes Modelling in Urban Trips), financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. No trabalho, os investigadores apresentam uma metodologia para comparação de rotas alternativas para ciclistas, considerando “não apenas a distância e o tempo de viagem, mas também o esforço e a exposição a poluentes resultantes das emissões de tráfego”, explica Anabela Ribeiro, coordenadora do estudo e docente no Departamento de Engenharia Civil da FCTUC.

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Anabela Ribeiro é a coordenadora do estudo DR

O modelo foi testado e validado em dois trajectos diferentes na cidade de Coimbra, entre os pólos I e II da Universidade: um através das ruas do Brasil e dos Combatentes da Grande Guerra, outro pelo Parque Verde, Rua Ferreira Borges e Avenida Sá da Bandeira.

Menos poluição e menos esforço

Numa primeira fase, a equipa de investigadores “calibrou a relação entre o esforço dos ciclistas e a inalação de poluentes, em laboratório, tendo em conta as características da pessoa, da bicicleta e do meio envolvente onde é efectuado o trajecto”. Para a avaliação foi usada uma bicicleta instrumentada.

Considerando os dois percursos, concluiu-se que, “com um acréscimo de entre 05 e 06% na distância e tempo de viagem [trajecto via Parque Verde e Sá da Bandeira], consegue-se uma redução de cerca de 30% na inalação de poluentes”. “Além disso, o esforço total despendido pelos ciclistas em ambos os trajectos é praticamente o mesmo, ou seja, a rota do Parque Verde não exige nenhum esforço adicional, embora seja mais longa, e até requer menos esforço médio nas subidas”, diz a investigadora. Assim, “trajectos mais rápidos ou mais curtos podem não ser os melhores no que respeita à exposição a poluentes ou ao esforço médio exigido”, observa Anabela Ribeiro.

A docente, que também é investigadora do Centro de Investigação do Território, Transportes e Ambiente, considera que a metodologia agora desenvolvida poderá ser uma ferramenta poderosa de apoio à decisão tanto para as autarquias como para os cidadãos. “Por exemplo, com base em informação sólida, os municípios poderão decidir quais os melhores locais para instalar uma ciclovia do ponto de vista da exposição a poluentes”, acrescenta.

Já os cidadãos, através de uma plataforma amiga do utilizador, “poderão decidir se preferem o trajecto mais rápido ou um alternativo menos sujeito a poluição e, em simultâneo, conseguem identificar as ruas ou os percursos onde terão de efectuar mais ou menos esforço”, exemplifica ainda a investigadora. “O estudo está neste momento em novas fases de desenvolvimento e aprofundamento, de modo a consolidar os resultados obtidos e a torná-los directamente úteis para a sociedade”, conclui a Universidade de Coimbra.