Crise climática
Cataratas de Vitória: uma das maiores quedas de água do mundo está quase seca
As cataratas de Vitória, na fronteira entre o Zimbabwe e a Zâmbia, são das maiores do mundo. Mas estão a ficar sem água.
Neste Dezembro há pouca água à vista nas cataratas de Vitória. Consideradas das maiores quedas de água do mundo pela combinação da sua altura, largura e quantidade habitual de água (1708 metros de extensão e 108 metros de altura), na fronteira entre o Zimbabwe e a Zâmbia, atraem milhões de turistas todos os anos para ver o rio Zambeze a escoar mais de cem metros por uma comprida fenda no solo. Mas, em 2019, o rio africano enfrenta a pior seca dos últimos 25 anos e o cenário está a afastar turistas daquela que é uma das maiores atracções do interior de África, onde se vê cair a maior cortina de água do mundo durante a época de chuvas.
“Parece não haver muita [água]. Umas pedras rochosas, com pouca água entre elas”, descreveu desiludido, Benjamin Konbig, um estudante alemão a visitar a região, em declarações à agência Reuters. Artesãos locais que vivem do turismo também dizem que é a "primeira vez" que vêem o rio assim.
Embora seja normal o fluxo de água, formado pelo escoamento do rio Zambeze, ser menor durante os meses de maior calor dos países africanos (Setembro a Dezembro), dados da Zambezi River Authority notam que o nível da água está no ponto mais baixo desde 1995.
O presidente da Zâmbia, Edgar Lungu, diz que o cenário é uma prova do impacto do aquecimento global e das mudanças climáticas. Numa entrevista à estação de televisão Sky News, Lungu admite estar receoso que as cataratas desapareçam por completo. “Isto é um problema sério, e genuíno. É surpreendente quando as pessoas trivializam as coisas e dizem que ‘a mudança climática não é real'. Provavelmente, vivem noutra parte do mundo”, disse. “[Na Zâmbia] estamos a sentir os efeitos da mudança climática de forma muito adversa. E está a afectar toda a gente.”
O alerta surgiu durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP25), que está a decorrer em Madrid até dia 13 de Dezembro.
Tanto o Zimbabwe como a Zâmbia têm sofrido várias falhas de energia, com a agravante de serem países que dependem da energia gerada pela barragem de Kariba, na bacia do rio Zambezi. E há 45 milhões de pessoas com falta de comida devido à falta de água para as colheitas.
Para alguns cientistas, porém, é preciso prudência quando se fala nas consequências do aquecimento global. Em declarações à agência Reuters, Harald Kling, um hidrólogo que se especializou no estudo do rio Zambeze, afirma que “pode ser difícil dizer que algo aconteceu devido às mudanças climáticas, porque sempre existiram secas”, explicou. “Só se [estas secas] se tornarem mais frequentes é que podemos dizer 'ok', podem ser as mudanças climáticas.”
Para o presidente Edgar Lundgu, o cenário actual deve motivar medidas contra as mudanças climáticas. “Queremos passar pelo rio Zambeze sem as imponentes cataratas de Vitória?" Não. Protegidas por parques nacionais em ambos os países, as cataratas são um popular destino turísitico desde a sua popularização no Ocidente graças à divulgação da sua existência pelo explorador escocês David Livingstone em 1855.
Artigo corrigido 08/12/2019: Clarificado que as cataratas de Vitória não são as maiores do mundo em altura ou largura, mas consideradas das maiores quedas de água do mundo pela combinação da sua altura, largura, e fluxo de água a cair durante a época de chuvas.