Um “espírito bom”: vítima do ataque na Ponte de Londres ajudava ex-reclusos
Jack Merrit, de 25 anos, foi um dos organizadores da conferência sobre reabilitação de condenados que decorria num edifício próximo da Ponte de Londres. Morreu esfaqueado por Usman Khanpor, que cumpriu pena em 2012 por participar num plano para fazer explodir a Bolsa de Londres.
Jack Merrit tinha 25 anos. Estudou Direito na Universidade de Manchester até 2016, antes de entrar na Universidade de Cambridge, na área da criminologia. Esta sexta-feira seria um dia atarefado para ele: ajudou a pôr de pé uma conferência sobre reabilitação de ex-reclusos, organizada pelo Instituto de Criminologia daquela instituição de ensino.
Merrit estava no local onde decorria a conferência, no edifício Fishmongers’ Hall, quando tudo aconteceu. Ouviu gritos, foi ver o que se passava e acabou por morrer às mãos de Usman Khan, o homem de 28 anos que na sexta-feira matou duas pessoas e feriu outras três. A polícia londrina explicou que o ataque terá começado dentro do edifício, por volta das 14h de sexta-feira, antes de continuar numa ponta da Ponte de Londres, onde Khan foi morto a tiro por oficiais armados. Ainda não são conhecidas as identidades da outra vítima mortal (uma mulher) e dos três feridos.
Usman Khan era uma das dezenas de pessoas, incluindo estudantes e condenados, que estava a assistir à conferência. Usou um colete de explosivos falsos e grandes facas de cozinha para atacar pessoas que participavam no evento.
Jack Merrit trabalhava no departamento de criminologia da Universidade de Cambridge e administrava o Learning Together, projecto focado na reabilitação de pessoas que já estiveram presas. O pai de Jack, David Merrit, utilizou as redes sociais para prestar uma homenagem ao filho, dizendo que era um “espírito bom” que ficava sempre “do lado dos oprimidos”. “O Jack falou muito bem de todas as pessoas com quem trabalhou e adorou o seu trabalho”, disse o pai do jovem.
“O meu filho Jack, que foi morto neste ataque, não gostaria que a sua morte fosse usada como pretexto para mais sentenças draconianas ou para deter pessoas desnecessariamente”, escreveu David Merrit numa resposta no Twitter que é citada pela BBC e outros meios de comunicação britânicos, mas que terá sido entretanto apagada da conta do mesmo.
A resposta de David Merrit foi dirigida a um utilizador que comentava as declarações desta sexta-feira do primeiro-ministro britânico. Algumas horas depois do ataque, antes de uma reunião em Downing Street, Johnson disse que “há muito argumenta” que é um “erro permitir que criminosos graves e violentos saiam da prisão mais cedo” e que “é muito importante que abandonemos esse hábito e imponhamos as sentenças apropriadas para criminosos perigosos, especialmente para terroristas”.
Ao mesmo canal, Audrey Ludwig, colega de trabalho de Merrit, destacou o seu “profundo compromisso com a educação e reabilitação de prisioneiros”. Outro amigo afirmou que o jovem era “incrivelmente espirituoso e inteligente”, tinha muito mais vontade de viver que “muita gente da sua idade” a “uma determinação em deixar a sua marca no mundo”.
Autor do atentado foi libertado sem avaliação
Khan, cuja família é de origem paquistanesa (da Caxemira paquistanesa), foi condenado em 2012 por participar num grupo que pretendia fazer explodir a Bolsa de Londres, desmantelado na altura pela polícia e pelos serviços secretos internos (MI5). Khan foi radicalizado pela propaganda online da Al-Qaeda na Península Arábica, liderada por Anwar al-Awlaki, um norte-americano que foi morto no Iémen num ataque com drones da CIA em 2011.
A pena a que foi condenado estipulava que devia cumprir um mínimo de oito anos de prisão, com a exigência de que os serviços de liberdade condicional avaliassem se continuava a ser um perigo público antes de ser libertado. Acabou, porém, por ser posto em liberdade sem essa avaliação, em Dezembro do ano passado, avançou a Reuters.
De acordo com o Guardian, durante os momento de terror que se viveram numa das áreas mais movimentadas de Londres, vários civis tentaram deter Khan com armas improvisadas: uma presa de narval – uma baleia dentada prima das belugas, em que os machos têm uma enorme presa helicoidal – e um extintor. Esta presa terá sido arrancada da parede do Fishmongers’ Hall, edifício onde decorria a conferência por um chef polaco chamado Lucasz.
O extintor foi usado por James Ford, de 42 anos, condenado em 2004 a prisão perpétua por ter morto Amanda Champion, uma mulher de 21 anos com idade mental de 15 anos. Foi apresentado como exemplo do sucesso de reabilitação de presos e estará a cumprir a fase final da sua pena em reclusão. Ambos os cidadãos estavam no evento organizado por Jack.
O Daesh disse este sábado que o responsável pelo atentado na Ponte de Londres era um dos seus combatentes. No entanto, segundo o advogado que o representava, este terá pedido ajuda na prisão para se desradicalizar, mas não a obteve.