Nas ruas pela justiça climática

A COP 25 é um momento fundamental para confrontar os líderes mundiais com as decisões que têm de ser tomadas.

Hoje é dia de luta. A greve climática estudantil volta a encher as ruas do mundo. Para as respostas que tardam, afirma-se o ativismo que pensa o futuro e leva a sério os desafios que a humanidade enfrenta. São os jovens que puxam pela consciência mundial e exigem as mudanças estruturais que a crise ambiental torna incontornáveis.

As greves climáticas (esta é a quarta em Portugal) são acontecimentos mundiais, com a participação de milhões de pessoas. Do Canadá à Nova Zelândia, da Argentina até à China, são já 153 os países onde se sai à rua, mostrando uma mobilização social sem precedentes históricos. Isto significa que as consciências estão a mudar e há cada vez mais pessoas que exigem dos líderes políticos mundiais mais do que palavras bonitas ou ideias pomposas: exigem ações concretas para responder ao estado de emergência climática.

A dias de recebermos a jovem Greta Thunberg, a mobilização em Portugal ganha um horizonte imediato e impacto internacional. A ativista sueca passa pelo nosso país com destino à COP 25, a conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2019 que irá decorrer em Madrid. É rumo a Madrid pela Justiça Climática que seguem as aspirações de mudança e para onde se dirige a mensagem da greve climática de hoje.

Depois de décadas em que os avisos foram ignorados, que os dados científicos foram negados, hoje a emergência climática é incontornável. A cortina de desinformação criada pelas grandes empresas das indústrias fósseis já não tem sucesso. Abraham Lincoln dir-lhes-ia que “podeis enganar toda a gente durante um certo tempo; podeis mesmo enganar algumas pessoas todo o tempo; mas não vos será possível enganar sempre toda a gente”. Assim é: passou o tempo da mentira, chegou o tempo da ação. É verdade que esses interesses obscuros ainda não se dão por vencidos, mas a consciência global sabe que os tem de vencer, sabe que os consegue vencer.

Deixar tudo como está não é opção. A via do imobilismo é negar o futuro às novas gerações, legando-lhes um planeta em caos climático. O resultado é simples: deixar tudo como está é declarar guerra aos mais jovens. Deixar para amanhã o que deve ser feito hoje é falhar rotundamente perante o maior desafio das nossas vidas.

As soluções já estão identificadas. O modelo de uma economia baseada nas indústrias fósseis é parte do problema, a sua superação é a única solução. Isso implica mexer nos grandes interesses instalados dos quais as petrolíferas multinacionais são apenas uma parte do todo. Mas, como a escolha é entre os lucros deles ou o futuro de todos nós, não pode haver hesitações.

Sabendo que 2018 foi o ano com mais emissões de sempre, batendo o recorde do ano anterior, que por sua vez já tinha batido o ano anterior, a conclusão óbvia é que os interesses instalados não pararão de explorar e poluir o nosso planeta a não ser que a isso sejam obrigados. É essa a força que estamos a construir, é essa a dimensão da nossa tarefa. E é nas alterações de fundo porque, como dizia Naomi Klein, “em termos do carbono, as decisões individuais que tomamos não têm qualquer efeito face à escala da mudança de que precisamos”.

A COP 25 é um momento fundamental para confrontar os líderes mundiais com as decisões que têm de ser tomadas, exigindo um modelo de desenvolvimento que garanta uma redução das emissões de gases com efeito de estufa e a neutralidade carbónica e breve prazo. E, se eles falharem nessa obrigação, é das ruas que lhes dizemos que não baixaremos os braços porque são as nossas vidas que estão em jogo. É essa a força da mensagem que os jovens estão a transmitir a toda a sociedade.

Assistimos à declaração de Emergência Climática em vários parlamentos nacionais, lista da qual a nossa Assembleia da República faz parte. Isso é positivo e já teve reflexo no Parlamento Europeu que ainda ontem assumiu essa posição. Posições tão importantes como demoradas numa luta em que o tempo é determinante. E se este simbolismo já é resultado da luta que os jovens estão a travar, falta ainda a conquista maior de uma agenda verdadeiramente transformadora da economia. O nosso futuro depende disso.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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