As drogas, a liberdade, os anos 80: Conta-me Como Foi regressa aos ecrãs a 7 de Dezembro

No regresso da série à RTP1, o Estado Novo fica para trás e abre-se a porta ao Portugal dos anos 80.

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Gravação da série Conta-me Como Foi, em 2007 MIGUEL MADEIRA/ARQUIVO

É um dos trunfos da ficção da RTP e um dos regressos mais aguardados pelos telespectadores: a série Conta-me Como Foi está de volta aos ecrãs da estação pública e o primeiro episódio será exibido a 7 de Dezembro, a seguir ao Telejornal. “Dentro de três minutos iniciaremos um período de emissão a cores”, ler-se-á, antes de recomeçar a história que esteve oito anos adormecida. A confirmação foi dada esta quarta-feira na apresentação oficial da série, em Lisboa. Os episódios serão exibidos ao sábado, às 21h. 

Durante as cinco primeiras temporadas, Conta-me Como Foi reflectiu a vida e quotidiano de uma família de classe média nos tempos de ditadura e do colonialismo, entre apontamentos históricos como a chegada do homem à Lua ou os movimentos de emancipação das mulheres. Agora, fala-se da entrada de Portugal na CEE, de toxicodependência (e sobretudo do flagelo da heroína), do contexto político já em democracia (incluindo as renhidas eleições entre Diogo Freitas do Amaral e Mário Soares) e da música (em especial a explosão do rock). 

Quanto ao elenco, Miguel Guilherme afirmou que esteve quase para não aceitar o convite para regressar porque tinha outros projectos em curso, que acabariam por ser adiados. “Os anos 80 foram uma época muito importante para mim pessoalmente, mas também foi uma época importante para o país. É quando acordamos para a democracia em Portugal e nos apercebemos que somos mais livres do que imaginávamos que poderíamos ser”, conta ao PÚBLICO, na apresentação da nova temporada. Reconhece que há uma certa nostalgia, mas o objectivo de Conta-me Como Foi não é “ter uma perspectiva museológica”. É acompanhar a história de uma família, “entroncar o lado pessoal com a história do país”, é revisitar o passado para aprender coisas sobre o presente. “Foi um regresso feliz”, conclui.

A série estreou-se em 2007, o último episódio foi exibido em 2011 e a família Lopes regressa agora depois de um intervalo de quase uma década. Além do pai de família António (interpretado por Miguel Guilherme), grande parte do elenco está também de regresso: Rita Blanco continua a ser a mãe Margarida; Catarina Avelar é a avó Hermínia; Luís Ganito ainda é Carlitos e ainda é o narrador – agora mais crescido. Continua a haver crianças: os netos de António e Margarida e a adolescente Susana, adoptada pela família Lopes aos três anos.

Luís Ganito, que ainda não era nascido nos anos 1980, explica como se preparou para ser um jovem adulto naquela época. “A maneira como se falava era muito diferente e mais cuidada. Antes falava-se de uma forma mais pausada, a vida não era tanto a correr”, diz. O jovem actor diz-se “radiante” com o retorno da série e acredita que o seu sucesso é culpa da família Lopes. “Somos mesmo uma família, aquilo é genuíno. Mesmo fora do estúdio, continuo a tratar os outros actores por ‘avó’, ‘mano’ e ‘mana’.” Ao lado, a sua “avó”, Catarina Avelar, conta que esta temporada teve um peso diferente das anteriores. “Marcou-me mais fazer a primeira série, fazer o antes do 25 de Abril e o 25 de Abril, essas vivências são mais fortes para mim. A década de 1980 já é uma consequência agradável, com coisas boas”, refere.

Mas também há novos rostos. Inês Castel-Branco é um deles: será Clara, chefe de redacção no jornal onde também trabalha Toni (Fernando Pires). É “uma mulher num mundo de homens”. A actriz diz ao PÚBLICO que a sua personagem acaba por ter um lado “muito social e político, porque é através dela que passam todas as notícias do que estava a acontecer naquela década”. João Reis também se estreia na série no papel do corrector de bolsa Inácio. Vítor Silva e Costa é o lusodescendente Afonso e Mafalda Vilhena é Amparo, a funcionária de um restaurante de francesinhas. 

Em Fevereiro, o director de programas da RTP, José Fragoso, confirmava ao PÚBLICO o regresso da série e falava apenas no salto temporal de 1974 para a década seguinte, adiantando que a família mudaria de casa para um bairro em Benfica. Todos os 104 episódios das temporadas anteriores podem ser vistos no RTP Play. Os novos episódios passarão em horário nobre na RTP1 e também ficarão disponíveis nesta plataforma de streaming.

A série portuguesa foi adaptada do formato espanhol Cuéntame Cómo Pasó, que começou também por retratar o período da ditadura franquista e soma já mais de 360 episódios, sendo ainda exibida na TVE depois da estreia em 2001. Os guiões foram adaptados aos diferentes contextos históricos dos países ibéricos.

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