A instrutora de condução Deborah Sherwood faz parte de uma equipa que tem como missão formar instrutoras e examinadoras de condução que tornaram possível a aplicação da lei que deixou de proibir as mulheres sauditas de conduzirem.

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Em entrevista, à margem do Salão Automóvel do Dubai (ver caixa), Sherwood recorda o choque cultural dos primeiros instantes após a chegada, mas confessa ser difícil escolher um momento de que se orgulhe em especial: “Já houve tantos momentos em que senti orgulho”. No entanto, há uma situação que ainda a emociona, que é saber ter tido a oportunidade de “testemunhar e participar” da alegria avassaladora vivida no dia 24 de Junho de 2018.

Quando começou a aventura pelo mundo da instrução de condução?
Tive formação para ser instrutora de condução aos 21 anos, porque a escola de condução do local onde vivia estava a precisar de pessoas para essa função. Acabei por usar o dinheiro que recebia como instrutora de condução para ingressar na Universidade e tornar-me professora primária. Foram duas paixões que me acompanharam ao longo de toda a vida: a instrução de condução e o ensino primário. Aprender a conduzir é uma aptidão incrível para a vida.

Como tem corrido a experiência saudita?
Muito francamente, tem sido extraordinário! Cheguei sem quaisquer preconceitos, porque queria viver o país de cabeça e coração abertos. Mas, claro, no momento da chegada senti o choque cultural. Porém, não demorou muito até conseguir apreciar o que me rodeava, as pessoas e as suas tradições, e também sentir uma certa excitação de conhecer a Arábia Saudita por dentro.

Quais os desafios que enfrenta sendo mulher e instrutora de condução? Sente o apoio das alunas?
Desde o início, havia uma certa preocupação de como a mudança de lei seria recebida [pela população]. Mas, à medida que o apoio popular se tornou evidente, essa preocupação deixou de fazer sentido. Já as alunas ficam tão empolgadas com a oportunidade que dão tudo por tudo ao longo da instrução.

Conte-nos um momento de que se orgulha como instrutora na Arábia Saudita?
Já houve tantos momentos em que senti orgulho como instrutora de condução na Arábia Saudita. Um dos mais emocionantes foi quando as primeiras instrutoras receberam a sua própria Carta de Condução saudita, durante os preparativos para o 24 de Junho de 2018. Depois, ouvir as suas histórias e ver os seus vídeos a conduzirem com as famílias no automóvel, logo no primeiro segundo após a meia-noite desse dia. Testemunhar e participar dessa alegria foi avassalador. Foi realmente uma honra fazer parte dessa incrível mudança na história do país. E, à medida que o tempo passa, e se conversa com cada vez mais recém-encartadas, percebe-se como conduzir afectou enormemente o futuro das mulheres sauditas de uma maneira tão positiva.

O que mais está a ser feito para romper as barreiras de género para as mulheres que conduzem na Arábia Saudita?
Houve várias campanhas de consciencialização por toda a Arábia Saudita no sentido de incentivar todos os condutores a mostrarem respeito pelas mulheres que começariam a aparecer ao volante. Além disso, existem agora muitas mais oportunidades de emprego para as mulheres, uma vez que várias vagas exigem que se conduza. Por isso, muito depressa, tornou-se comum ver mulheres a conduzir na região em que estou sediada.

A quantas mulheres está actualmente a dar instrução?
Eu, em conjunto com outros três avaliadores, treino instrutoras desde que cheguei. E estas, sim, as nossas incríveis instrutoras, passaram a ensinar milhares de mulheres a conduzir.

Que mensagem gostaria de passar para quem está de visita ao Salão Automóvel do Dubai?
Simplesmente, aproveite a feira, divirta-se e alimente o sonho. Mas, mais importante, seja um condutor seguro, conduzindo de forma defensiva, respeitando a estrada e todos os outros condutores. Lembre-se: conduzir é um privilégio que teve de ser conquistado.
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Shereen Shabnam é directora da revista Millionaire, Dubai, e jurada do Women's World Car Of The Year

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