Arquitectura
Dez anos a viajar pelo mundo em busca do legado da Bauhaus
Há questões que resistem à passagem do tempo e se mantêm como força motriz da evolução da arquitectura e do design. Uma delas é que tipo de espaços e edifícios queremos habitar? Outra será que tipo de objectos desejamos ter? Há 100 anos, em 1919, quando foi fundada a Escola de Arte Bauhaus, em Weimar, na Alemanha, ninguém poderia prever que de lá surgiriam novas e revolucionárias respostas a essas perguntas. Assim como figuras que se tornariam lendárias no mundo das artes, como os pintores Paul Klee, Wassily Kandinsky ou o arquitecto Mies van der Rohe. Mas assim foi. E o mundo mudou. Desse facto é testemunha o fotógrafo Jean Molitor que, ao longo de dez anos — desde 2009 — reuniu imagens que comprovam a influência da escola Bauhaus em todo o mundo. Compilou-as no livro BAU1HAUS – Modernism Around the Globe, em colaboração com a editora Hatj Cantz.
Molitor fotografou em 40 países, como Burundi, Dinamarca, Israel, Alemanha, Cuba, Finlândia e em muitos outros territórios que distam milhares de quilómetros entre si. Mas apesar da distância física que os separa, há elementos no seu interior que os unem — e esses estão relacionados com o modernismo europeu. A estética das obras é o elemento aglutinador destas imagens. "Os edifícios foram encontrados ao acaso, em diversos países", diz Molitor ao P3, em entrevista por email. "A selecção não obedece a um sistema específico, responde apenas a linhas e formas dos edifícios." Para o fotógrafo não é importante que os edifícios sejam reconhecíveis. "Este é um projecto livre e não obedeço senão ao meu próprio sentido estético e fotográfico", justifica. "Este não é um projecto que deva ser percepcionado como sendo de cariz documental, mas sim artístico."
O grande périplo de Jean Molitor começou no Burundi, em 2009. "O objectivo era fotografar edifícios que estavam em risco de demolição e que fossem de estilo modernista europeu, para que a sua imagem ficasse gravada para a posteridade. Foi nessa altura que comecei a observar as linhas dos edifícios pela primeira vez." Percebeu, ao longo do tempo, que independentemente do país onde se encontrava, estava perante edifícios "parentes", motivo por que abraçou a missão de registá-los. "Para que se possa compreender o projecto, posso dizer que, nas exposições, costumo retirar as legendas e as explicações que costumam acompanhar cada fotografia", explica. "Os edifícios do Camboja podiam estar na República Checa, as estações de metro de Viena podiam estar em Moscovo ou Kazan."
Além de BAU1HAUS – Modernism Around the Globe, Molitor é também autor do fotolivro Bauhaus. As imagens que partilha com o P3 pertencem a ambas as publicações.