Exportação da BD brasileira passa por Portugal

A internacionalização da banda desenhada independente brasileira tem passado nos últimos anos por Portugal e está em destaque no festival AmadoraBD, onde são convidados os autores Marcello Quintanillha, André Ducci, o editor Rodrigo Rosa e a programadora Luciana Falcon. Com eles estará Rui Brito, o editor português que mais tem investido na publicação de BD brasileira no mercado português, através da editora Polvo.

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Morro da Favela, de André Diniz, autor que entretanto se mudou para Portugal, é uma das dezenas de obras de BD brasileira editadas pela Polvo em Portugal André Diniz

A internacionalização da banda desenhada independente brasileira tem passado nos últimos anos por Portugal e está em destaque no festival AmadoraBD, com a presença de vários autores e lançamentos de novos títulos. Os autores Marcello Quintanillha, André Ducci, o editor Rodrigo Rosa e a programadora Luciana Falcon, da Bienal de Quadrinhos de Curitiba, são alguns dos convidados para encontros e apresentações neste fim-de-semana no festival. Com eles estará Rui Brito, o editor português que mais tem investido nos últimos anos na publicação de BD brasileira no mercado português, através da editora Polvo, pela qual já lançou, desde 2013, quase trinta títulos.

Numa colecção só dedicada ao “romance gráfico brasileiro”, Rui Brito publicou, por exemplo, Morro da favela, de André Diniz (autor que entretanto está a viver em Portugal), Cachalote, de Daniel Galera e Rafael Coutinho, Angola Janga, de Marcelo D'Salete, e Cadafalso, de Alcimar Frazão. No âmbito do AmadoraBD, a Polvo lança sete novidades editoriais, das quais três são brasileiras: Grande, de André Ducci, dois volumes da série Edibar, de Lucio Oliveira, e Folia de reis, de Marcello Quintanilha. Tanto de André Diniz como de Marcello Quintanilha, a Polvo já publicou sete títulos.

“Até eu estou surpreendido”, admite Rui Brito em declarações à agência Lusa quando contabiliza o que já editou de produção recente brasileira. A regularidade de edição e as escolhas feitas chamaram a atenção do jornal Folha de São Paulo, num artigo publicado em Setembro passado sobre a Polvo e sobre o facto de vários títulos estarem a sair primeiro no mercado português. “Procurei sempre estar atento ao que se está a produzir no Brasil. A nossa colecção reúne o “supra-sumo” do que se está a fazer no Brasil. Neste momento a Polvo é muito conhecida pelos autores brasileiros e sou contactado por muitos consagrados e que estão agora a fazer as primeiras obras”, explicou.

Apesar do volume de edições ser superior em número, a Polvo não é a única editora portuguesa a publicar álbuns de BD brasileira. A ela juntam-se, por exemplo, a Kingpin Books, que conta no catálogo com títulos como Aventuras na ilha do tesouro, de Pedro Cobiaco, Pétalas, de Gustavo Borges, e Dodô, de Felipe Nunes, e a Levoir, que lançou Daytripper, dos irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá, e Bando de dois, de Danilo Beyruth.

Esta presença da BD brasileira em Portugal — sem contar com o sucesso do universo Turma da Mónica, de Maurício de Sousa —, acontece ainda num ano em que a Bienal de Quadrinhos de Curitiba e o Ministério das Relações Exteriores do Brasil lançaram em Portugal, em Maio passado, um catálogo antológico de divulgação. Ao longo de 150 páginas são mostradas 70 obras, com o objectivo de “representar a variedade de temas, a variedade de géneros (sexuais e narrativos), a variedade de estilos artísticos e a variedade de procedências dos autores e autoras a partir de um recorte de dez anos no mercado editorial brasileiro, de 2009 a 2018”, escreveu o editor Érico Assis na introdução.

Entre as razões para este investimento no mercado internacional, em particular em Portugal, Rui Brito aponta a actual conjuntura social do país, que afectou o mercado editorial e as grandes redes livreiras. “Isso fez com que muitos autores procurassem uma solução que passasse pela internacionalização”, disse. No âmbito do programa “Brasil em Quadrinhos”, promovido pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil, a Polvo será parceira de um projecto editorial intitulado “Bicentenário da Independência”, aprazado para 2022.

Rui Brito explicou à Lusa que a colecção de BD será feita em parceria entre editoras brasileiras e estrangeiras e que cada título versará sobre aquela temática histórica, a editar em simultâneo em vários países. No caso da Polvo, será uma história com argumento de um autor brasileiro e desenho de um autor português — ainda por anunciar —, tendo como centro D. Pedro I do Brasil, IV de Portugal. Questionado sobre possíveis reinterpretações de acontecimentos históricos, uma vez que é uma iniciativa promovida pelo governo, Rui Brito contou que lhe foi garantida “plena liberdade para [os autores] tratarem o respectivo tema": “À partida o argumentista não terá limitações quanto ao modo de abordar a história. Isto não é uma colecção que pretenda ser fiel, relatando acontecimentos históricos, pode ser minimamente ficcionada. Não é uma BD histórica, mas sim com um fundo histórico”, explicou.

O 30.º festival AmadoraBD termina este Domingo.