Critérios de coerência política
Numa grande parte das obras e intervenções mais significativas dos sucessivos mandatos do Arq. Manuel Salgado, o PSD votou favoravelmente. Não me revejo no tipo de oposição que se esgota no ataque, na difamação e na calúnia e que não consegue apresentar uma única ideia ou visão alternativa para a cidade.
A intenção de votar favoravelmente a nomeação de Manuel Salgado para dirigir a Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) de Lisboa tornou-me o alvo de ataques, fúrias e ameaças de sectores do partido que servi como vice-presidente, como deputada, e que sirvo ainda como vereadora de Lisboa. Não é a primeira vez que tomo posições que não são consensuais mas orgulho-me de não deixar que o receio de desagradar interfira no meu julgamento e na minha consciência. Gostaria de partilhar e clarificar as minhas razões com quem me elegeu e começar por esclarecer alguns mal-entendidos e desinformação que se dissemina por aí. Vamos por partes:
Em primeiro lugar, por uma questão de coerência política e de consciência, importa responder com frontalidade à seguinte pergunta: qual foi a obra e a marca de Manuel Salgado na cidade de Lisboa e qual foi a acção do PSD relativamente às obras estruturantes para a cidade nos últimos doze anos em que esteve como vereador?
Sem querer ser exaustiva, cito apenas alguns exemplos: virou a cidade para o rio, recuperou a Ribeira das Naus, investiu na reabilitação do espaço público na frente ribeirinha de Lisboa, recuperou o grande eixo central de Lisboa com o percurso Avenida da Liberdade - Avenida da República e prolongamento a norte da via estruturante central de Lisboa e investiu em programas de reabilitação do espaço público como ‘Uma praça em cada bairro’. É ainda responsável pelas alterações ao PDM que permitiram soluções criativas para colmatar a escassez de recursos do município sem prejudicar os agentes económicos.
Em segundo lugar, como se posicionou e votou o PSD nestas questões e o que distingue a nossa visão da implementada pelo Arqº Manuel Salgado? Importa, pois, esclarecer e recuperar alguma memória histórica porque numa grande parte das obras e intervenções mais significativas dos sucessivos mandatos do Arq. Manuel Salgado, e salvo algumas excepções sobre as quais o PSD tinha um entendimento diferente, o PSD votou favoravelmente. Ora neste mandato, a acção do PSD em nada diverge do que tem sido a essência da acção do PSD durante os sucessivos mandatos do Arq. Manuel Salgado: votando a favor nos projectos que consideramos que valorizam a cidade e criam melhores condições de vida para as pessoas que aqui vivem, aqui trabalham ou aqui circulam, e fazendo oposição combativa mas também construtiva relativamente a uma visão que apesar de colocar Lisboa no mapa das grandes capitais internacionais – visão que o PSD subscreve - esqueceu a ‘Lisboa escondida”, ocupada por pessoas sem voz, que o executivo anterior e este abandonaram à sua sorte.
E é sobretudo neste segundo ponto que a nossa visão diverge do programa do executivo liderado por Fernando Medina cuja acção, em meu entendimento, agravou o fosso entre a cidade rica e a cidade pobre e ajudou a empurrar para as periferias muitas pessoas cujos rendimentos não lhe permitem pagar uma casa ou uma renda em Lisboa. Ao contrário do actual executivo, defendo um modelo equilibrado, que aposte no desenvolvimento e na coesão social, de forma a tornar a cidade mais inclusiva e menos assistencial para com os mais fracos, priorizando a mobilidade territorial e social.
Queremos uma cidade aberta, cosmopolita, diversa, global, virada para o futuro mas que simultaneamente promova a coesão social e que enfrente sem receio os problemas estruturais sensíveis, relacionados com o tecido social e humano da cidade.
Em terceiro lugar de que se trata esta votação? É aqui que residem os maiores equívocos e desinformação, porque o que está em causa não são só as diferenças e/ou semelhanças entre as visões do Arq. Manuel Salgado e as do PSD; o que está em causa é a nomeação do Arq. Manuel Salgado para Presidente da Sociedade de Reabilitação Urbana – uma empresa Municipal que não tem qualquer competência sobre a orientação e o planeamento urbanístico da cidade, nem qualquer competência em matéria de licenciamento urbanístico. No seu novo formato, a SRU tem uma missão muito específica: a de construir escolas, creches, centros de saúde e casas para o programa renda acessível.
Ao longo destes dois anos de mandato em que me cabe a coordenação política da vereação do PSD de Lisboa tenho sempre presente e matriz ideológica social-democrata no que diz respeito à descentralização, respeito pela iniciativa privada, a promoção da igualdade de oportunidades e correspondentes condições de acesso, e ainda na defesa do interesse público e da correcta ponderação entre os diversos interesses que se manifestam numa cidade aberta.
Como sempre em todos os cargos e lugares que ocupei – e naqueles para que fui eleita – guio-me por critérios de coerência política, avaliação de mérito e competência. Neste caso, as perguntas que me coloquei foram: temos visões urbanísticas diametralmente opostas sobre o presente e o futuro da cidade? Tem o Arq. Manuel Salgado competência profissional para continuar a dirigir uma empresa municipal com esta missão? A sua nomeação serve Lisboa? Ainda ninguém me conseguiu demonstrar por a+b que não tem a competência, idoneidade e experiência para levar a cabo esta missão. Não me revejo no tipo de oposição que se esgota no ataque, na difamação e na calúnia e que não consegue apresentar uma única ideia ou visão alternativa para a cidade. Não é essa a minha forma de fazer política nem nunca será. Faço política útil; não faço política fútil.