Sindicato defende que jogadores devem “poupar e preparar o futuro”
Foram nesta terça-feira apresentados os resultados do inquérito à literacia financeira dos jogadores profissionais de futebol em Portugal.
O presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), Joaquim Evangelista, disse nesta terça-feira que durante muito tempo os jogadores se limitaram a jogar futebol, mas que é fundamental que desenvolvam a capacidade de poupar e preparar o futuro.
O dirigente falava à margem da apresentação dos resultados do inquérito à literacia financeira dos jogadores profissionais de futebol em Portugal, que decorreu no Auditório Alcínio Miguel da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Bragança.
Para Joaquim Evangelista, a carreira de um futebolista profissional é “curta e tem um desgaste enorme”, defendendo que os jogadores devem “preparar o futuro”.
O inquérito à literacia financeira dos jogadores profissionais decorreu entre Março e Maio de 2019 através de entrevistas presenciais a 424 jogadores da I Liga, II Liga, Campeonato de Portugal e campeonato de futebol feminino.
Os resultados permitiram perceber que 92,2% dos jogadores vão realizando poupanças ao longo da carreira, que 58,5% fizeram o ensino escolar obrigatório (12.º ano) ou que 8,2% terminaram um curso superior.
Quase 92% dos jogadores inquiridos disse gerir o seu próprio rendimento, sendo que 79% o fazem sozinhos. Apenas 7% afirmaram que é totalmente gerido por terceiros.
Quanto aos rendimentos auferidos mensalmente, apesar de 26,4% não ter respondido à questão, 28,5% afirmou que recebe acima dos 2.500 euros, sendo mais de metade jogadores do principal escalão, 26,4% recebe entre mil e 1500 euros e 13,9% aufere entre 500 e mil euros.
Há ainda 1,7% de entrevistados que não têm rendimento, na maioria com idade igual ou inferior a 20 anos (57,1%) e a jogar na II Liga (71,4%).
O presidente do SJPF realçou que os jogadores devem “ter consciência das características da sua profissão”, para não serem surpreendidos no futuro.
Sobre a escolaridade dos futebolistas, Joaquim Evangelista lembra que em Portugal havia “um divórcio enorme entre a escola e o desporto”, mas que “esse paradigma está a mudar”.
“O sindicato já ajuda, por exemplo, ao nível da qualificação, pois já conseguimos que mais de 150 jogadores fizessem o 12.º ano ao âmbito do programa qualifica”, vincou.
Apesar da ideia geral de que os jogadores de futebol ganham muito dinheiro, o dirigente realçou que o estudo demonstra o contrário, pois “há uma minoria que ganha, mas a grande maioria não recebe esses salários elevados”.
“Em Portugal há características próprias como o incumprimento salarial, desemprego, jogadores a treinarem à parte nos clubes e tudo isso acrescenta problemas aos jogadores que precisam de estar preparados”, analisou.
O antigo jogador profissional de futebol Marco Ferreira, de 41 anos, também marcou presença na apresentação e destacou que actualmente há mais “formação e informação”, mas que no seu tempo houve muitos colegas a “não saberem gerir o seu dinheiro”.
Natural de Vimioso, no distrito de Bragança, o antigo jogador de clubes como FC Porto e Benfica contou ainda que graças à profissão do pai, gerente bancário, sempre teve um bom acompanhamento na gestão das suas finanças.
O inquérito resultou de um protocolo de cooperação entre o Conselho de Supervisores Financeiros (Banco de Portugal, Comissão de Mercado de Valores Mobiliários e Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões) e o SJPF, que tem como objectivo a formação e sensibilização da importância de criar hábitos de poupança e gerir adequadamente recursos financeiros.