Fotografia
Martin Parr já era Martin Parr antes da cor e fama
Antes da cor e da fama, já existia em Martin Parr o acutilante e satírico olhar que define, ainda hoje, o seu inconfundível estilo fotográfico. O fotolivro Early Works, editado em conjunto pela Martin Parr Foundation e RBB Photobooks, é prova disso mesmo — e inclui 20 fotografias inéditas do fotógrafo da Magnum.
Aos 14 anos, Martin Parr já tinha a certeza de que, um dia, viria a ser fotógrafo. E não um qualquer: a sua predilecção era a fotografia documental. Conhecia bem o engenho e o laboratório fotográficos graças ao avô, George, que era um dedicado fotógrafo amador. Seguiram-se os estudos na mesma área, no Politécnico de Manchester, de 1970 a 1973, e o lançamento de uma carreira que viria a mudar o rumo da história da Fotografia.
Bad Weather, editado em 1982, e A Fair Day, em 84, ambos registados a preto e branco, foram os primeiros trabalhos de Parr a colher reconhecimento no meio fotográfico inglês. "Eu fiz alguma fotografia a cores para o projecto Home Sweet Home, no início dos anos 70, mas só em 1982 (...) é que comecei a levar a cor mais a sério", explica Parr no seu site. O interesse, confessa, ressurge após o contacto com os garridos trabalhos de Joel Meyerowitz, William Eggleston e Stephen Shore.
O último toque daquilo que se tornou a sua assinatura fotográfica foi precisamente a cor, em tons muito saturados, que passou a obter com recurso ao filme Fuji 400 Superior para a câmara de médio formato de 6x7 e, para 35 milímetros com flash, os filmes Agfa Ultra ou Fuji 100 Asa. "O flash apura as cores", explica na secção FAQ do seu site. Por isso, nunca recorre ao Photoshop.
Quase todos os elementos da fotografia de Parr já estavam presentes nos seus primeiros trabalhos a preto e branco. O olhar acutilante e profundamente satírico sobre a condição humana, que se traduz, não raramente, na invulgar repetição de elementos prosaicos nos enquadramentos, já está bem patente no fotolivro Early Works, lançado agora em conjunto pela Martin Parr Foundation e pela RBB Photobooks.
O seu primeiro fotolivro a cores, The Last Resort, data de 1986 e foi realizado a pedido de Gerry Badger, escritor, arquitecto, curador, fotógrafo e crítico de fotografia britânico, e mudou, segundo Jeffrey Ladd, autor do prefácio desta nova compilação que inclui 20 fotografias inéditas de Parr, "o modo básico de expressão na fotografia", "desenvolvendo um novo tom no que concerne a fotografia documental".
Parr publicou cerca de 50 fotolivros e participou em quase 80 exposições em todo o mundo. Em 1994, tornou-se membro da Magnum. Hoje em dia, fotografa de forma digital, mas nunca perdeu aquele que é o combustível do seu motor criativo, o "olhar microscópico" sobre a imperfeição humana.