O nenúfar-amarelo está a desaparecer do Mondego mas há um projecto para o salvar
Já só há duas plantas no vale do Mondego. Voluntários vão remover jacintos-de-água e instalar barreiras flutuantes.
Na manhã de sábado, um grupo de voluntários vai juntar-se em Montemor-o-Velho para remover jacintos-de-água do rio do Mondego e ajudar a conservar o nenúfar-amarelo na região. A acção que inclui também a colocação de barreiras flutuantes é promovida pelo projecto de investigação Charcas de Noé, do Centro de Ecologia Funcional (CEF) da Universidade de Coimbra, e tem ponto de encontro marcado para as 10h, na zona do Poço da Cal. A participação é livre, mas sujeita a inscrição aqui.
Apesar de o nenúfar-amarelo (nuphar luteum) poder ser encontrado noutros rios do país, como o Sado ou o Lis, no vale do Mondego já só restam duas destas plantas, refere o investigador do CEF, Jael Palhas. “No Mondego, tem conhecido um declínio brutal. Pensámos que estava extinta, mas no ano passado encontrámos este núcleo”, descreve.
O responsável pela iniciativa explica que, apesar de ter sido levada a cabo uma primeira acção de voluntariado em Abril deste ano, “uma limpeza do canal periférico direito [do rio] pela Agência Portuguesa do Ambiente soltou um núcleo de jacinto-de-água (eichornia crassipes) que estava preso a montante”. Durante o Verão, com condições favoráveis, o jacinto “estabeleceu-se completamente em cima do nenúfar e tapou o Poço da Cal”. Se nada for feito para proteger o nenúfar-amarelo, “é mais uma extinção no vale do Mondego”, adverte. Daí que seja preciso voltar ao terreno, fazer a limpeza e colocar barreiras flutuantes que impeçam o jacinto de ganhar novamente terreno.
Nas últimas décadas, a zona do Baixo Mondego tem vindo a assistir à extinção de várias espécies aquáticas, refere Jael Palhas. Outro problema é a propagação de espécies invasoras, como é o jacinto. “Esta acção não vai resolver o problema dos jacintos”, sublinha Jael, “mas vai evitar que matem os últimos nenúfares-amarelos do Mondego”.
E prossegue: “As espécies invasoras actuam no ecossistema como um cancro no organismo. Quando o problema ainda não é grave, é porque dá para resolver facilmente; quando é grave, já é muito difícil, às vezes impossível, de resolver”. Por isso, vai ser “essencial repetir” uma acção do género na Primavera, “quando os jacintos estiverem reduzidos a meia dúzia de fragmentos” e for possível “retirá-los e impedir a sua propagação”.
Segundo o investigador, esta é uma acção para “aproximar a população dos valores naturais e das espécies que estão a desaparecer”. Qualquer pessoa pode inscrever-se e está prevista a participação de associações de desportos aquáticos que, além de contribuírem com os seus membros, levam caiaques a mais para que outros voluntários se possam juntar. O mesmo acontece com empresas de animação turística, acrescenta. Há também espaço para quem não queira entrar na água. “Vai ser precisa ajuda na margem para puxar os jacintos para terra e para os colocar do outro lado da estrada”, descreve Jael. A compostagem das invasoras será feita no próprio local de forma a minimizar os riscos de dispersão, afirma.