Portugal “deveria estar orgulhoso” por ter Centeno no Eurogrupo, diz Moscovici
Em fim de mandato, o comissário europeu dos Assuntos Económicos e Financeiros, Pierre Moscovici, lamenta deixar o cargo sem que exista um orçamento para a zona euro. “É uma questão inacabada”, afirma.
O comissário europeu dos Assuntos Económicos defendeu hoje que Portugal “deveria estar orgulhoso” por ter Mário Centeno à frente do Eurogrupo, mas apontou que o responsável português tem como desafio criar um “orçamento ideal” para a zona euro.
“Penso que Portugal deveria estar orgulhoso de ter a presidência do Eurogrupo com ele [Mário Centeno]”, afirmou em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas, o comissário europeu dos Assuntos Económicos e Financeiros, Pierre Moscovici.
Prestes a terminar o mandato, o socialista francês apontou ter trabalhado, nestes cinco anos, “em condições bastante favoráveis” com Mário Centeno, tanto enquanto ministro português das Finanças, como na liderança do Eurogrupo, que assumiu em Dezembro de 2017.
Questionado se considera Centeno como o “Ronaldo das Finanças”, como já foi apelidado, Pierre Moscovici afirmou não ser “comentador desportivo”. Mas, acrescentou, “é claro que ele já marcou alguns golos”.
“Quando um país tem sucesso, isso deve-se, em primeiro lugar, às pessoas, aos portugueses, que são formidáveis e sabem receber muito bem”, mas também “à liderança de António Costa [primeiro-ministro] e também à boa conduta de Mário Centeno”, observou.
O comissário francês acrescentou que “sem políticas fiscais e de incentivo ao investimento Portugal não estaria como está”, análise que disse ser imparcial, apesar de ambos os responsáveis – Costa e Centeno – serem seus “amigos pessoais”.
Antigo ministro francês das Finanças, Pierre Moscovici está prestes a terminar o mandato de comissário europeu dos Assuntos Económicos e Financeiros, cargo que assumiu em 2014, dado não fazer parte do novo executivo comunitário liderado pela alemã Ursula von der Leyen e que entra em funções no início de Novembro.
Fazendo um balanço deste período, o responsável admitiu que não conseguiu fazer tudo o que queria.
“Uma questão que penso estar inacabada é que ainda não temos um orçamento para a zona euro e eu lutei sempre por isso”, realçou.
Hoje, reunido no Luxemburgo, o Eurogrupo discute a criação de um Instrumento Orçamental para a Convergência e a Competitividade (BICC, sigla em inglês), medida que Pierre Moscovici classificou como um “passo na direcção certa”.
Contudo, “ainda não é o orçamento ideal”, disse o comissário europeu à Lusa, defendendo que os ministros das Finanças da zona euro devem ser “mais ambiciosos” para criar um instrumento “que tenha uma função de estabilização, maior governança democrática e uma maior dimensão”.
Para Pierre Moscovici, neste mandato falhou também a criação de impostos digitais para empresas que, embora não tenham presença física em certos países da UE, operem na região através da internet.
“É inaceitável que as grandes multinacionais não paguem este tipo de taxas”, defendeu.
Em sentido inverso, Moscovici mostrou-se “satisfeito” com três feitos do seu mandato.
“Nós conseguimos evitar um “Grexit” e mantivemos a Grécia na zona euro e, com isso, conseguimos que a economia grega recuperasse”, destacou.
Ao mesmo tempo, “a segunda questão com a qual estou satisfeito é com a supervisão orçamental”, porque “sempre defendi que se deviam evitar sanções a Portugal, Espanha, Itália e outros países e sempre fui contra a austeridade”, acrescentou.
E precisou: “O que António Costa fez foi o que eu sugeri para a UE – reduzir o défice sem austeridade e com reformas –, e isso é possível. Hoje, temos uma situação em que o crescimento é uma realidade há seis anos e os défices foram reduzidos sem recurso a sanções”.
Moscovici congratulou-se ainda com “as mudanças fiscais” por si criadas.
“Fizemos mais a nível fiscal do que alguma Comissão nos últimos anos”, salientou.
Questionado pela Lusa sobre quais os próximos projectos profissionais, dada a saída de Bruxelas, Moscovici afirmou que voltará a Paris e será um “homem livre, a tentar aproveitar as oportunidades”.
“Nos últimos 25 anos estive ligado ao meu país, comprometido com a Europa e também envolvido na política de centro-esquerda e no futuro acontecerá o mesmo, mas ainda não sei como”, adiantou.