Rio atribui derrota aos críticos, sondagens e conjuntura favorável para o Governo
Líder do PSD está a ponderar se sai do cargo ou se será recandidato nas próximas eleições internas. Mas disse que assumirá o mandato em São Bento.
O líder do PSD geriu as expectativas – que estavam muito baixas no início da campanha – para chegar à noite das legislativas e assumir que não teve uma “derrota histórica”. Rui Rio escusou-se a dizer se será novamente candidato à liderança do PSD – e até gracejou com o “tabu” que gerou – e mostrou-se mais uma vez disponível para fazer as reformas estruturais “com o PS e com os demais partidos”.
Foi uma lista de razões, “internas e externas”, que o líder do PSD apontou para reconhecer as dificuldades na disputa das legislativas. A conjuntura económica internacional favorável aos socialistas e o “contraponto com o tempo da troika”, o aparecimento de “pequenos partidos”, alguns que nasceram de dentro do PSD – como a Aliança de Pedro Santana Lopes – e que “representaram perdas na ordem dos 2%” para os sociais-democratas. Rodeado por dirigentes nacionais.
Rio lançou ainda a sua ira contra a “prolongada publicação de sondagens”, que iam “desmotivando o PSD e galvanizando o PS”.
Do ponto de vista interno, o líder do PSD queixou-se de “uma permanente instabilidade no partido, com a conivência de alguma comunicação social, através de comentadores com a agenda política contra o PSD e a sua liderança”. E aí carregou nas tintas: “Uma instabilidade de uma dimensão nunca antes vista no PSD e exclusivamente motivada por razões pessoais”.
Só perante as perguntas dos jornalistas, Rio assumiu a sua quota de responsabilidade – por ser líder do partido desde Fevereiro de 2018 “para o bem e para o mal” - num resultado que não foi uma “derrota história” como alguns “profetizavam”. A leitura do líder do PSD é a de que o partido “repetiu o resultado de 2015”, de cerca de 38%, e que tinha em conta que o CDS teria 8% nessa coligação. “Se o PS se excedeu na exuberância nos festejos, a vitória não foi tão grande. Também foram manifestamente exageradas as profecias sobre a hecatombe do PSD. Manifestamente falharam”, afirmou.
O líder do PSD foi ainda questionado sobre como poderia cantar vitória quando o resultado destas legislativas está abaixo dos 28,7% de Santana Lopes, em 2005. A resposta veio em jeito de pergunta. “Se me pergunta se o PSD atingiu o seu principal objectivo não atingiu, mas se formos analisar as circunstâncias e a hecatombe que íamos ter este resultado é positivo”, disse.
Relativamente às reformas estruturais, que sempre disse estar disponível para fazer, Rui Rio não quis adiantar se os resultados destas legislativas lhe dão condições para viabilizar orçamentos do Estado e fazer esses acordos de regime. “Portugal precisa de um conjunto de reformas estruturais. Estou disponível para colaborar e convencer os outros para fazer essas reformas. Seguramente com o PS mas com todos os demais que queiram”, disse.
O líder do PSD disse que assumirá o seu lugar no Parlamento, mas que está a “ponderar” sobre o seu cargo no partido. “O Rui pondera, não há tabus só porque não responde ao fim de um minuto ou dois”, afirmou, falando de si na terceira pessoa.
A noite foi longa no PSD. Rui Rio esteve até quase ao último minuto para se pronunciar. Já antes dois dirigentes nacionais que lhe são próximos tinham preparado o terreno e feito a gestão das expectativas. Nuno Morais Sarmento, vice-presidente, disse não ter dúvidas de que foi o PS a “ganhar as eleições”, mas sublinhou que “também não há uma derrota histórica” do que houve uma “tendência de bipolarização”.
Alentejo sem deputados do PSD
O PSD não terá nenhum deputado em todo o Alentejo. Não elegeu António José Miranda em Portalegre nem Sónia Ramos em Évora nem Henrique Silvestre Ferreira em Beja. Os mandatos foram para o PS. Em todo o país, o PSD ganhou em Bragança, Vila Real, Viseu, Leiria e Madeira. Em Braga, o PSD teve menos votos mas manteve o mesmo número de deputados (oito) face a 2015, quando elegeram 10 em coligação (dois eram do CDS). Já em Aveiro a derrota foi mais visível: o PSD perdeu dois deputados face a 2015.
Em 2015, a coligação PSD/CDS elegeu Nilza de Sena por Beja, mas Rui Rio não a reconduziu como cabeça de lista. Os sociais-democratas perderam esse lugar agora. O candidato era o empresário Henrique Silvestre Ferreira, mas o lugar foi para o PS que venceu neste distrito.
Em Évora, a cabeça de lista Sónia Ramos também falhou a eleição. Sónia Ramos, líder da distrital, foi a escolha de Rui Rio em vez do actual deputado António Costa Silva, que era vice-presidente da bancada.
No distrito de Portalegre, os dois únicos mandatos foram para o PS.