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“Eu não merecia isto”: ataque com ácido mudou a vida de Berfin para sempre
O dia 15 de Janeiro de 2019 será, para sempre, lembrado por Berfin Ozek como aquele em que a sua vida mudou para sempre. De regresso da faculdade, a jovem dirigia-se para casa, em Iskenderun, no sul da Turquia, quando o ex-namorado a atingiu no rosto com ácido sulfúrico. Desfigurada e cega de um olho, Berfin permaneceu hospitalizada durante meses. Já em casa, em Março, disse à European Press Agency: “Eu não merecia isto, esta não é a minha cara”. “Esta é a cara da desgraça na nossa sociedade”, lamenta, referindo-se à sociedade turca.
Segundo a agência noticiosa, este tipo de ataques não são comuns na Turquia, motivo pelo qual este incidente em particular suscitou várias ondas de indignação, solidariedade e protesto contra a passividade do governo perante crimes cometidos contra mulheres.
Até ao momento do ataque, Berfin Ozed tinha como objectivo licenciar-se em Psicologia. As marcas físicas e psicológicas que resultaram do ataque, assim como o esforço financeiro a que a sua família foi forçada no sentido da sua recuperação, tornaram essa meta impossível. Para que pudesse regressar, foi lançada uma campanha de angariação de fundos nas redes sociais, que se tornou viral. Pouco tardou até que a organização não-governamental Women of Iskenderun lançasse nova campanha; desta vez, essa chegaria a debate no Parlamento turco, onde ficou decidido que seria o Estado a cobrir as despesas das várias cirurgias reconstrutivas de Berfin, num hospital privado especializado em cirurgia estética. Berfin espera recuperar algo da sua antiga aparência com as cinco cirurgias a que terá de submeter-se durante o período de um ano e meio.
Este caso gerou grande controvérsia, na Turquia. Foi interpretado como “uma escalada de violência contra as mulheres”, refere a EPA. A organização não-governamental We’ll Stop Femicide aponta para 440 mulheres vítimas de violência de género em 2018. Nos primeiros quatro meses de 2019, 141 mulheres foram assassinadas e centenas já foram vítimas de ataques. As organizações de defesa dos direitos das mulheres têm, desde o início do ano, pressionado o governo de Erdogan no sentido de reforçar as leis que protegem as mulheres, na Turquia. Denunciam, também, dificuldades em aferir o número de casos relacionados com violência de género devido à ausência de publicação de dados por parte das autoridades oficiais. Números não-oficiais apontam para valores três vezes superiores à média europeia neste tipo de crime. O advogado de Berfin garante que “os casos de violência contra mulheres estão a aumentar [na Turquia] por ausência de acção preventiva por parte das autoridades”. “Muitos casos de ataque, violação ou assédio contra mulheres são, simplesmente, ignorados.”
A jovem estudante Berfin Ozek encontra-se em lenta recuperação. “Ela recuperou o espírito e a força”, informa o advogado. “Encontrou um bom cirurgião que vai tratar do seu caso.”