Em Coimbra, o preço do quarto varia pouco, mas há novos investidores

Em Coimbra, regista-se uma ligeira subida dos preços dos quartos, que ainda assim não é comparável com Porto nem Lisboa. No entanto, há também novos investidores a apostar em alojamento com valores acima do mercado actual.

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Paulo Pimenta

Entre Julho e Agosto, Mauro Pinto andou à procura de um T3 para dividir com mais dois amigos em Coimbra. Não restringiram muito a zona de pesquisa, apenas procuravam uma casa com boas condições, cozinha equipada e que a sala não estivesse transformada em quarto, conta o estudante de 25 anos e do segundo ano de doutoramento na área de Engenharia Biomédica. Fez licenciatura e mestrado em Coimbra e nota que os preços dos quartos estão estáveis. “Consegue-se sempre arranjar por 160 ou 200 euros”, refere. Mas, no caso das casas com melhores condições, “os preços subiram”. Se é possível encontrar casas relativamente baratas em Coimbra (principalmente quando o termo de comparação é Porto e Lisboa), “depende da qualidade com que se queira viver”, explica o estudante de Estremoz. O tecto que tinham definido era de 250 euros a cada um, mas acabaram por não conseguir encontrar um T3 que reunisse os requisitos. Optaram por arrendar quarto individualmente. 

“O alojamento é hoje um dos maiores custos da frequência no ensino superior”, começa por dizer o presidente da direcção-geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Daniel Azenha, para explicar que está preocupado. Se os preços não escalaram tanto como noutros pontos do país, o responsável refere que, em Coimbra, também se notou um aumento dos custos com o alojamento. O preço médio ronda agora os 200 euros por quarto, estima. 

Fazendo uma rápida pesquisa pelos sites da especialidade, facilmente se confirma a experiência de Mauro ou a estimativa de Daniel Azenha. Os preços praticados por quarto andam entre os 150 e os 250 euros, oscilando essencialmente consoante a localização e condições do imóvel. Até Agosto, e de acordo com dados da Uniplaces, o preço médio em Coimbra era de 200 euros, mais dez euros que em igual período de 2018 (5%). As zonas mais caras para arrendar um quarto privado numa casa partilhada através desta plataforma, que tem uma alta taxa de arrendamento por parte de estudantes estrangeiros, são no Cidral (253 euros), em Montes Claros (241 euros) e na Baixa (231). Seguindo uma tendência do país, também aqui os preços da habitação têm vindo a subir. Coimbra tem vindo a receber mais turistas, por conta de um aumento nacional, mas também da classificação da Universidade, Alta e Sofia como património da UNESCO em 2013. No entanto, o impacto do alojamento local não se compara ao sentido em cidades como Lisboa ou Porto. 

Novos actores

Mas esta aparente normalidade no alojamento estudantil em Coimbra não significativa que não tenha havido mudanças. Nos últimos anos, foram vários os privados a investir em alojamento estudantil na cidade, com rendas superiores e os olhos postos no aumento do número de estudantes internacionais.

São várias as empresas que têm vindo a recuperar prédios antigos, dividindo-as em pequenos T0 e T1 e com um nível de renda acima dos quartos convencionais. Recentemente, uma outra empresa, que também detém duas residências em Lisboa, adquiriu o antigo edifício da clínica de Montes Claros, transformando-o numa residência de luxo, com piscina e ginásio. A modalidade pode variar entre quarto e estúdio, com preços que vão dos 420 aos 790 euros. Também a antiga sede da EDP da Rua do Brasil, em frente ao Parque Verde, foi adquirida por uma empresa de capitais estrangeiros, que tem já investimentos em Lisboa e no Porto. O P3 entrou em contacto com algumas das empresas, mas nenhuma se mostrou disponível para responder às questões.

O presidente da DG/AAC sublinha também que o número de camas em residências universitárias é deficitário. Em Coimbra, entre Universidade, Politécnico e Escola Superior de Enfermagem, há pouco mais de 39 mil estudantes a frequentar o ensino superior público. O resultado da soma de camas em residências das várias instituições não chega a 2000, o que obriga grande parte dos alunos a recorrer ao mercado privado de alojamento, à semelhança do que acontece noutras cidades do país. Ainda assim, o diagnóstico que serviu de base ao Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior (PNAES) mostrava que Coimbra era, em 2017, o concelho do país com maior número de camas em residências, com 1831, mesmo à frente de Lisboa, com 1727. Desse total, 1327 são da Universidade de Coimbra (UC), um número que se mantém estável. Ainda assim, de acordo com o mesmo documento, 57% dos estudantes do superior da região de Coimbra são deslocados, estando a esmagadora maioria na capital de distrito. Isto significa que o número de camas em residências cobre apenas 10,9% das necessidades dos estudantes deslocados.

Questionados pelo P3 sobre se há possibilidade de aumentar o número de camas disponíveis num futuro próximo, a UC responde apenas que “está em estudo um conjunto de possibilidades nesse sentido”, sendo que o Instituto Politécnico refere que prevê aumentar esse número em 150 já no próximo ano (actualmente são 347, distribuídas por três residências).

Daniel Azenha entende que a alternativa de alojamento em Pousadas da Juventude, prevista no PNAES, “não é uma solução a longo prazo” e que outras vertentes do programa têm de ser aceleradas. O presidente da DG/AAC lamenta que este problema não tenha sido antecipado, uma vez que, “com o aumento dos estudantes no ensino superior e com o aumento do turismo, era previsível que isto fosse acontecer”. Azenha refere que a AAC tem conversado com a UC e Câmara Municipal de Coimbra, que estão a “tentar encontrar edifícios públicos que estejam desocupados para servir como residências”. Quartéis militares ou o antigo hospital pediátrico de Coimbra, que encerrou em 2011 e está desde então devoluto, são “opções em aberto”, exemplifica. Estas, sim, poderão ser soluções a médio prazo, aponta.

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