O futuro do Brasil é um quebra-cabeças (im)perfeito

O Rio de Janeiro sente-se traído numa história a que falta o ciúme que Bentinho sentiu por Capitu, em Dom Casmurro. Na cidade de Machado de Assis, é tempo de ressaca. Estamos na cidade-símbolo, a de toda a alegria e toda a tristeza, a do samba e do chorinho, do funk e da baía moribunda de Guanabara, a de gente com pele de todas as cores e a do mural de Kobra com rostos indígenas envelhecidos. Foi aí que o presente parou em 2016. E agora? Agora, interpela-se, por exemplo, o texto do austríaco Stefan Zweig que dizia que o Brasil era um país de futuro.

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Isabel Lucas

Ana disse com muita certeza: “O futuro é ali.” E apontou para perto, braço direito estendido, seguro, para um lugar onde o Sol se aperta entre as nuvens baixas e a água. É uma concentração de dourado a querer libertar-se, numa explosão de um horizonte que o amarra entre o mar e céu. Ana é dali e, segundo ela, o futuro fica para oeste da cidade do Rio de Janeiro, ou seja, para o lado onde o Sol se põe, depois da Praça Mauá e do Boulevard Olímpico, para lá do grande mural do artista brasileiro Eduardo Kobra, Etnias – o maior graffito do mundo, com rostos de homens e mulheres indígenas de todos os continentes. São 15 metros de altura por 170 metros de comprimento ao correr da linha do eléctrico, num antigo paredão antes abandonado na Avenida Rodrigues Alves, junto ao porto. Foi ali que o tempo parou no presente de 2016, o ano das Olimpíadas. Desde então está a envelhecer, tal qual os rostos dos povos envelhecidos desenhados por Kobra. Estar ali é como entrar numa grande pausa, num momento que está a ser lido e só se vai deixando entender pela história que cada um conta. Sobre o que vive, o que vê, o que escuta. É cada um a efabular sobre este “agora”, e a certeza de Ana vem da sua própria leitura quando afirma: “O futuro é ali.” O do Rio, o do Brasil.

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