Fotografia

“A anorexia não é um estilo de vida, é uma doença”

©Joana Silva
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Filipa Costa tinha 13 anos quando tudo começou. Insatisfeita com o aspecto do seu corpo, começou a comer menos. A evitar as refeições. A contar as calorias. A contar o número de exercícios que realizava diariamente. Os pais pensaram "é só uma fase". Mas não era. Eram os primeiros e francos sinais do início de uma doença de foro psicológico que viria a assumir o controlo sobre a vida da adolescente. Anorexia nervosa.

"Quando fui finalmente ao médico, o prognóstico não era muito animador", explica a jovem ao P3, em entrevista telefónica. "O médico disse que o meu coração estava demasiado fraco e que corria risco de vida. Eu fiquei estranhamente indiferente. Pensei apenas que estava a conseguir atingir o meu objectivo. Estava magra." No momento de maior fragilidade, Filipa chegou a pesar 41 quilos. "O que me assustou verdadeiramente foi ouvir o médico dizer que tinha de me alimentar para que a minha vida deixasse de correr perigo. Isso sim." Comer era o maior desafio. "Eu odiava espelhos", confessa. "Odiava o que via reflectido. Todos os espelhos de minha casa estavam tapados." Frustrada com aquilo que lhe devolviam, Filipa chegou mesmo a partir alguns.

A doença tem contornos específicos que a jovem, hoje com 28 anos, descreve detalhadamente. "Manipulava tudo e todos à minha volta no sentido de evitar a ingestão de comida. Era tão difícil lidar comigo, no pico da doença, que muita gente se afastou. Foi um processo extremamente difícil para a minha família." De quem era a culpa, perguntavam-se. O que tinham feito, ao longo da infância, para que ela desenvolvesse a doença? Com o tempo viram-na eclipsar-se física e mentalmente. "Durante anos, senti que era uma pessoa sem identidade", explica. "A doença, a obsessão que se manifestava em cada uma das minhas acções fez-me perder interesse em quase tudo. Calorias, peso, exercício: esses eram os meus interesses."

A recuperação deste tipo de doença pode nunca ser total. Filipa considera estar em controlo da situação, actualmente. O seu peso varia entre 47 e 48 quilos, "dependendo do exercício" que faça no ginásio. "Já não me imagino a passar um dia inteiro sem comer, mas confesso que, em momentos em que me sinto pior, me refugio um pouco no controlo sobre aquilo que ingiro." Mas não se imagina com mais ou menos peso do que tem. A luta pela consciencialização pública da doença é, hoje em dia, a sua causa. E foi por isso que aceitou ser a protagonista desta série da autoria de Joana Silva, estudante do Instituto Português de Fotografia. Porque "a anorexia não é um estilo de vida, é uma doença".

A sessão fotográfica decorreu em Junho de 2019. "Foi difícil libertar-me", confessa. "Inicialmente fiquei chocada com o resultado. Vi alguma dor na expressão dos meus olhos e isso foi algo difícil de encarar." Joana não tinha, inicialmente, intenção de fotografar o rosto de Filipa, mas sentiu, durante o processo, necessidade de incluir o olhar da sua modelo. "O olhar é parte desta história", explica. "Este projecto foi importante para mim, a nível pessoal. Deparei-me com uma realidade diferente da minha. Acho que veicula uma mensagem importante, deixa um alerta a jovens e a pais relativamente aos sinais da doença." Filipa acrescenta: "Irá sempre existir um ideal de beleza que é determinado por terceiros, é algo incontornável. Eu digo apenas que cada mulher tem o direito de se sentir bonita como quiser, desde que não perca a saúde. O meu conselho a jovens que estejam a entrar na espiral da doença é que procurem ajuda. Há médicos que nos ajudam a atingir os nossos objectivos de forma saudável, sustentável." 

Gostas de fotografar e tens uma série que merece ser vista? Não consegues parar de desenhar, mas ninguém te liga nenhuma? Andas sempre com a câmara de filmar para produzir filmes que não saem da gaveta? Sim, tu também podes publicar no P3. Sabe aqui o que tens de fazer.

©Joana Silva
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Capa da série fotográfica
Capa da série fotográfica ©Joana Silva