Arquitectura
Uma casa iluminada em Ovar, com um espigueiro vermelho como abat-jour
Quem passa na rua da Estrada Nova, em Arada, no concelho de Ovar, depara-se com uma construção minimalista e harmoniosa, em tons de branco, pouco contrastante com as vizinhas. Do cenário destaca-se um espigueiro vermelho, elemento que dá pistas para o passado agrícola da habitação que agora se rejuvenesceu. Mais do que um marco, continua a servir como arrecadação, um apoio exterior que, devido à sua iluminação interior, “acaba por ser também um grande abat-jour quando ligado à noite”.
Este projecto com assinatura do arquitecto Nelson Resende, localizado numa rua central de ligação entre a Capela da Nossa Senhora do Desterro e a Igreja Paroquial de Arada, é uma habitação com algumas décadas de existência que foi gradualmente adaptada e que “pretende transmitir uma sensação de serenidade e neutralidade”.
Numa espécie de dualidade entre “o velho e o novo”, o principal desafio do arquitecto foi tentar interligar as duas épocas da casa — a que corresponde à sua construção, em finais da década de 1950, e a da sua requalificação, nos dias de hoje. Herdada pela proprietária, que a recebeu dos seus avós, a residência guardava “uma série de memórias e emoções”. Daí a dificuldade do arquitecto em “apropriar a escala da casa existente e interligá-la com o novo projecto”. Apesar disso, conseguiu redesenhar a casa de forma idêntica à original, nomeadamente o pátio — o coração da casa inicial — que era usado pela família para convívios, brincadeiras ou para secar cereais. O que muito agradou à proprietária, que não escondeu a felicidade de “voltar a ganhar o pátio que [se lembra] de ter tido quando era miúda”.
Com a intervenção de Nelson Resende, a habitação ganhou alguma unidade, que vai ao encontro das novas expectativas de utilização. Quanto aos materiais, foram usados diversos elementos e técnicas. É o caso dos pavimentos do rés do-chão, que têm revestimento cerâmico cinzento, e dos pavimentos do primeiro piso, que são em madeira. Já nos interiores predominam peças em madeira, aço e mármore.
Nelson Resende, que trabalhou neste projecto com João Almeirante e Nuno Leite, conseguiu iluminar o espaço, tornando a casa — que antes era relativamente pequena e compartimentada — mais ampla. “A relação das zonas comuns é uma relação muito mais franca e liberta de obstáculos do que aquela que a casa tinha anteriormente”, explica o arquitecto, sublinhando a vontade de preservar a essência desta habitação de dois pisos, aqui fotografada por João Morgado.